O animismo é muito provavelmente a mais antiga disciplina espiritual conhecida do mundo. Traços visíveis de suas práticas podem ser encontrados na Austrália, nas Américas, na Sibéria e em partes da Europa, remontando à aurora da história. Pinturas rupestres, antigas pedras entalhadas e conchas decoradas, de sítios arqueológicos tão distantes entre si como a Escócia, a França, Américas do Norte e do Sul, o Círculo Ártico e o interior da Austrália, nos fornecem elementos da vida e das atividades de seus praticantes.
Conforme o escritor John Matthews, estas disciplinas ancestrais ainda são transmitidas em muitos pontos do mundo e os praticantes contemporâneos desta tradição emprestam uma dimensão viva aos seus artefatos. O mundo se revela num constante entrelaçar da realidade e os reinos dos espíritos, permitindo que possamos falar essencialmente a mesma linguagem etnográfica – independente de origens ou raças.
Historicamente não há relatos verificáveis que conectem as práticas dos Celtas e Druidas às técnicas animistas, no entanto, existem muitas conexões com druidas e “xamãs” em termos de suas abordagens serem semelhantes em relação à natureza, nos aspectos da espiritualidade e funções que exercem em suas respectivas comunidades. Assim como, o Seiðr nórdico, um tipo de magia associada ao transe e que está conectado às magias xamanistas.
Essa visão complementa a afirmação de que o animismo é um fenômeno de êxtase e evidencia à crença em seres sobrenaturais e na possibilidade do Outro Mundo. Um estudo semelhante e mais amplo, baseado na exploração arqueológica, foi dirigido pelos renomados arqueólogos Stephen e Miranda Aldhouse-Green no livro “The Quest for the Shaman”, onde eles enfatizam a origem das práticas “xamânicas” e a sua influência na religião.
Os arqueólogos interpretam objetos ou indicações que evidenciem possíveis atividades xamanísticas, como por exemplo, as figuras do Caldeirão Gundestrup. Assim as reconstruções históricas e as precursões arqueológicas provam ser de grande interesse aos movimentos de Neoxamanismo. Sabendo-se que xamãs não são representantes dos povos originários que, ocasionalmente, evitam as tradições da Nova Era.
Basicamente, o animismo tem o objetivo reconectar o ser com a sua sabedoria interior, além da conexão com a multidimensionalidade e o autoconhecimento, o poder pessoal e os seres espirituais, promovendo a limpeza dos corpos físico e sutis, a harmonização de ambientes, a conscientização do aspecto espiritual de cada um e a inter-relação com a natureza e o planeta, além da ativação das habilidades de coragem, força e sabedoria para lidar com questões pessoais, curas internas e prevenção de doenças.
“O xamã se torna uno à natureza, ao planeta e se comunica com os espíritos dos animais.” Como diz John Matthews, essa é a linha mestra de todo animista – seja ele norte-americano, siberiano, nórdico, brasileiro ou celta. É o que ele chama de “Core Shamanism”, como as principais práticas presentes no animismo de qualquer cultura. Sendo o centro deste caldeirão, o fogo do trabalho ritual e a sua jornada em um “Estado Xamânico de Consciência” (EXC). Esses estados de consciência alterados constituem as chaves da compreensão, como o antropólogo Carlos Castañeda distingue a “realidade comum” da “realidade incomum”.
As jornadas meditativas estão presentes no transe na forma do êxtase, um grande facilitador para se conectar ao Outro Mundo e acessar o conhecimento ancestral, seja através do toque do tambor, cachimbo sagrado ou por meio de meditações guiadas com animais de poder ou espíritos afins. Como descreve Mircea Eliade: “O transe “xamânico” restabelece a situação do homem primordial durante o seu êxtase, o xamã recupera a sua existência paradisíaca, que não estavam separados das divindades. De fato, as tradições falam do tempo mítico em que o homem se comunicava diretamente com os Deuses celestes.”
Os historiadores, arqueólogos e antropólogos acreditam que a origem do animismo se encontra na Europa do final da Idade da Pedra, entre 30.000 e 20.000 a.C. e ressurge em nossa sociedade atual para ser aprendido e vivenciado novamente. Como descreve o pesquisador Michel Harner: “Fundamentalmente, a sabedoria só pode ser adquirido através da experiência individual. Contudo, será necessário que se aprenda os métodos a fim de utilizá-los. Eles podem ser aprendidos de diversas maneiras. Por exemplo, entre os Shipibo-Conibo do Alto Amazonas, o aprendizado com as árvores é considerado superior ao que se tem por intermédio de um xamã. Entre os aborígenes da Sibéria, a experiência de morte e renascimento era a principal fonte deste conhecimento.”
Quem pratica o Druidismo certamente já se deparou com o animismo e a cultura celta. Apesar das semelhanças o “Xamanismo Celta” não é igual ao Reconstrucionismo Celta e nem ao Druidismo Moderno. O termo “celta” passa a significar um caminho reconhecidamente original às terras da Inglaterra, Irlanda, Gales e Escócia, de onde as práticas modernas se inspiram e estudam a cultura dessas tradições.
Fonte bibliográfica:
“Xamanismo Celta” de John Matthews
Mito do Eterno Retorno de Mircea Eliade
Rowena A. Senėwėen ®
Revisão e atualização em 24/09/2020.
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