As Runas foram descritas como uma forma de escrita que servia tanto para a comunicação como para fins magísticos e divinatórios. Geralmente, inscritas em pedras num alfabeto antigo, com letras características e utilizadas pelos antigos povos germânicos em talismãs para proteção e encanamentos para diversas finalidades. A Estela Rúnica ou as Runestones são inscrições sobreviventes de caráter memorialista das Pedras Rúnicas do Elder Futhark, da Era Viking (793–1066 dC).
Apesar de todas suas variantes, as Runas podem ser consideradas como uma das mais antigas formas de escrita da Europa do Norte. A versão escandinava que também é apontada como Futhark, deriva das primeiras seis letras: ‘F’, ‘U’ ‘Th’, ‘A’, ‘R’, e ‘K’), assim como o uso da versão anglo-saxônica conhecida como Futhorc, que devido a longa convivência dos dois alfabetos foram utilizadas no geral.
As inscrições rúnicas mais antigas datam de cerca do ano 150, sendo substituído pelo alfabeto latino com a cristianização, por volta do século VI na Europa Central e no século XI, na Escandinávia. Conforme explica o Prof. Dr. Johnni Langer, a magia rúnica era especialmente importante, cada Runa possuía um efeito especial de feitiço ou magia. O especialista em Runas era chamado de “Rúna – Meistari”.
A prática de gravar Runas para prestar homenagem aos vivos e aos mortos, foi uma tradição da elite e dos membros da aristocracia, os “jarls” – título usado na Era Viking e no início da Idade Média. Entre outras práticas, como cita Johnni Langer: “Os encantamentos rúnicos eram realizados para proteger armas, extinguir fogos e tempestades, curar, cicatrizar feridas, obter o amor da mulher amada e discorrer sobre o futuro: runas da vitória (sigrrúnar) foram esculpidas sobre a espada; runas de cerveja (ölrúnar), para gravar no corno de beber; runas de proteção (bjargrúnar), inscritas na cabeça do assistente para partos; runas de ondas (brimrúnar), esculpidas sobre o navio para proteção marítima; runas de ramos (limrúnar), feitas para favorecer curas e cinzeladas na madeira; runas de fala (málrúnar), para conferir eloquência em assembleias; runas de sentido (hugrúnar), para facilitar a compreensão e a comunicação.”
Canto Rúnico a Odin – Edda
“Encontrarás nas Runas,
Símbolos encantados,
Bons, fortes e poderosos,
Como assim quis o Senhor da Magia,
Como assim fizeram os Deuses propícios,
Como assim gravou o Príncipe dos Sábios.”
As Runas são símbolos que nos remetem ao mais profundo autoconhecimento da nossa própria natureza, através da ancestralidade e da sabedoria do grande Deus nórdico, Odin. Segundo o Hávamál (As Palavras do Altíssimo), Odin ficou pendurado na Yggdrasil – a Árvore da Vida – durante nove dias e nove noites, sem água e nem comida, além de ser ferido por sua própria lança. Quando estava prestes a morrer, foi levando ao mundo dos mortos através de uma jornada meditativa. Encontrou as Runas debaixo da raiz da grande árvore e retornou vitorioso, trazendo consigo todo o conhecimento rúnico.
“Sei que fiquei pendurado,
Na árvore fustigada pelo vento,
Por nove dias e nove noites,
E fui espetado por uma lança
Entregue a mim mesmo…
Não me ajudaram
Nem deram-me de comer ou beber.
Olhei para baixo e apanhei as Runas,
Gritando, apanhei-as e então, caí.”
Supostamente, a palavra “runa” significa “segredo”, “sussurro” ou “mistério”, na língua germânica e foi preservada na tradição do runemal (conhecedor das runas). Como já foi dito, as Runas eram confeccionadas como talismãs para proteção nas viagens e para atrair a boa sorte nas batalhas. Há vários registros arqueológicos da sua utilização entalhadas em armas, batentes de portas, copos e chifres usados como cálices.
O Futhark antigo, com 24 sinais alfabéticos, ainda é o mais utilizado entre nós para se consultar de forma oracular. As Runas são divididas em três grupos de oito símbolos, chamadas aett ou aettir, no plural; permitindo-nos acessar o que chamamos atualmente de “o inconsciente coletivo” das possibilidades.
1. A Criação – Aett de Fehu:
O primeiro jogo de 8 Runas representa a criação do mundo, a fertilidade e início da vida. Regido pelo Deus Freyr, diz respeito ao plano físico e material.
Fehu (Fêihu) – O gado, a riqueza
Posição normal: riquezas materiais e espirituais, sucesso e vitória.
Invertida: Frustrações, impasses e perda de estima pessoal.
Uruz (Úruz) – O touro bravo, a força
Posição normal: Boa sorte, amadurecimento, determinação e progresso.
Invertida: Oportunidades perdidas, influências negativas e desânimo.
Thurisaz (Thurisáz) – Os espinhos
Posição normal: Proteção de Thor, decisão importante a tomar e entusiasmo.
Invertida: Decisões precipitados, cautela e más notícias.
Ansuz (Änsuz) – Palavras de Odin
Posição normal: Sabedoria, inspiração e conselho dado por pessoa mais velha.
Invertida: Falta de comunicação, futilidade e movimento inútil.
Raidho (Raithô) – A carruagem
Posição normal: Viagem, decisão e progressos em direção às metas da vida.
Invertida: Rompimentos, fracassos e viagens desagradáveis.
Kenaz (Kenaz) – A tocha
Posição normal: Renovação, novos começos e iluminação.
Invertida: Perda de prestígio social ou de posses valiosas, fim de um ciclo.
Gebo (Gueibo) – O presente
Posição normal: União, equilíbrio, bons negócios e amor correspondido.
Invertida: Não tem posição invertida.
Wunjo (Uúnjo) – A alegria
Posição normal: Felicidade, bem estar e transformação para melhor.
Invertida: Infelicidade emocional, crises e perdas afetivas.
2. A Necessidade – Aett de Hagal:
O segundo Aett de 8 Runas, ensina-nos a aprender com as adversidades da vida. Regido pela força da natureza e os elementos, diz respeito ao plano emocional.
Hagalaz (Hagalaz) – O granizo
Posição normal: Precauções, obstáculos, limitações e adiamento dos planos.
Invertida: Essa Runa não tem posição invertida. Símbolo enigmático.
Naudhiz (Nauthis) – A necessidade
Posição normal: Paciência, limitações e cautela em seus planos.
Invertida: Evite a precipitação, controle a raiva e aprenda com a adversidade. Dependendo do material estudado não há posição invertida.
Isa (Ísa) – O gelo
Posição normal: Concentração, saiba esperar o momento oportuno.
Invertida: Essa Runa não tem posição invertida.
Jera (Jéra) – A colheita do ano
Posição normal: Ciclo de colheita e recompensas, alegria e satisfação.
Invertida: Essa Runa não tem posição invertida.
Eihwaz (Éiuaz) – O teixo
Posição normal: Proteção, final de um ciclo e começo de uma nova vida.
Invertida: Essa Runa não tem posição invertida.
Perdhro (Perthro) – Algo oculto
Posição normal: Ganhos inesperados, conhecimentos ocultos e espirituais.
Invertida: Desapontamentos, traições e paciência.
Algiz (Algiz) – A proteção do alce
Posição normal: Viagem, novos caminhos, alegria e progresso.
Invertida: Inquietação, vulnerabilidade e perigos vindos de fora.
Sowelo (Souelú) – O Sol
Posição normal: Auto-realização, regeneração, sucesso e vitória.
Invertida: Essa Runa não tem posição invertida.
3. A Humanidade – Aett de Tyr:
O terceiro Aett de 8 Runas, nos mostra como conduzir a nossa vida. Regido pelo Deus Tyr, o guerreiro que invoca a justiça e a realização do plano espiritual.
Tiwaz (Tiuás) – O Deus Tyr
Posição normal: Vitórias, discernimento, honra e justiça.
Invertida: Problemas emocionais e força vital sendo desperdiçada.
Berkana (Bercana) – O vidoeiro
Posição normal: Renovação, nascimento de um bebê ou nova idéia.
Invertida: Confusão. Desânimo, separações e carências.
Ehwaz (Éuaz) – O cavalo
Posição normal: Movimento, mudanças, progresso e lealdade.
Invertida: Saber esperar, evitar ação e mudanças.
Mannaz (Mánaz) – O homem
Posição normal: Integração, confiança e clareza interior.
Invertida: Falta de fé, bloqueios e inimigos ocultos.
Laguz (Lagús) – A água
Posição normal: Fluidez das emoções, intuição e poderes psíquicos.
Invertida: Pensamentos confusos, enganos e fracassos.
Inguz (Ingúz) – A fertilidade
Posição normal: Realização de um sonho, gestação, amor e sexualidade.
Invertida: Essa Runa não tem posição invertida.
Dagaz (Dagaz) – O dia
Posição normal: Prosperidade, mudanças e transformações positivas.
Invertida: Essa Runa não tem posição invertida.
Othila (Ocíla) – A herança
Posição normal: Sabedoria ancestral, propriedade, heranças e notícias de longe.
Invertida: Problemas com propriedade e heranças.
Portanto, somos fruto do passado (Urd), caminhantes do presente (Verdandi), escrito no pergaminho secreto do futuro (Skuld). Somos os responsáveis pela magia da criação. Abençoados pelas “Norns”, as Senhoras do Destino, que tecem cada fio de energia que emitimos no caminho, conforme os mitos nórdicos.
Particularmente, não uso as “runas invertidas” e nem a “runa branca”, pois ao lançá-las as Runas são bem específicas nos presságios. Essa é uma prática pessoal podendo ou não ser seguida, como está sugestão acima. Que assim seja!
*Sobre os talismãs rúnicos e sua confecção: Símbolos Rúnicos. Assim como o texto Prof. Dr. Johnni Langer: Sete erros históricos sobre Runas e Magia Rúnica. E o artigo do Prof. Leandro Vilar, membro do NEVE (Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos ): Runas e pedras rúnicas: guia visual. Boa leitura!
Rowena A. Senėwėen ®
Texto atualizado em 20/02/2022
Todos os direitos reservados.
Referência bibliográfica:
A Magia das Runas – Ruth e Beatriz Adler
Hilda R. Ellis Davidson – Deuses e Mitos do Norte da Europa
"Três velas que iluminam a escuridão: Verdade,
Natureza e Conhecimento." Tríade irlandesa.