À procura de Arthur – fato ou ficção?
O Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda nunca existiram na vida real. Pode ter havido alguém chamado Arturus no passado distante da Grã-Bretanha, provavelmente, um líder ou general militar que fazia campanha contra as hordas saxãs e saqueadoras do século 5 d.C. Existem várias teorias sobre a localização da corte de Camelot, embora a pesquisa continue, estas são infrutíferas. Arthur e seus cavaleiros sempre serão figuras do mito e da lenda arthuriana, apreciadas mundialmente através da literatura europeia.
Reza a lenda que…
O seu reinado marcou uma época de cavalheirismo na guerra e no amor. Durante séculos, escritores e artistas romantizaram a sua história, mas estudiosos atuais sugerem uma realidade muito diferente dada à lenda. Num castelo sombrio construído sobre um promontório rochoso que avança mar adentro, onde Igrayne aguarda o regresso do marido, Gorlois, Duque da Cornualha – que após a morte do rei Ambrósio, rompeu seu juramento ao seu sucessor.
Porém, quem entra nessa noite no quarto de Igrayne não foi ele e sim Uther Pendragon, o novo rei a quem o mago Merlin deu a aparência de Gorlois, a fim de satisfazer a paixão ilícita do rei por Igrayne e enredar o maior plano da vida de Merlin, com a concepção de um filho. Assim começa a história do lendário rei Arthur, que inspirou numerosos autores durante séculos e cativou o imaginário popular.
Merlin apodera-se do filho de Igrayne e entrega-o a Sir Ector para que o eduque como seu filho. Quando o rei morre e Arthur completa 16 anos, Merlin revela a sua verdadeira paternidade, após o jovem conseguir arrancar uma espada fincada numa rocha. Todos os que tinham tentado haviam falhado a prova que “só o verdadeiramente nascido rei” passaria no teste. Merlin lhe fala a respeito do encanto lançado sobre ele pelas fadas de Avalon.
Arthur será o melhor de todos os cavaleiros e o maior de todos os reis e viverá “uma vida mais longa do que qualquer homem jamais conhecerá”. Enquanto o povo se ajoelha para jurar fidelidade ao seu novo soberano, o arcebispo coloca-lhe a coroa.
A Era do Cavalheirismo
Sob o benévolo domínio de Arthur, o reino goza doze anos de paz, época em que se assiste o grande florescimento da cavalaria. Arthur chama ao seu castelo de Camelot. Os cavaleiros corajosos e fiéis do reino – Lancelot, Gawain, Percival e muitos outros – eles sentam-se ao redor de uma enorme mesa ou távola redonda, tendo cada um dos seus nomes gravados a ouro na respectiva cadeira. Os que ali estão são ensinados por Merlin a evitar o crime, a crueldade e a maldade, a fugir da traição, da mentira e da desonestidade, a dar o perdão aos que o pedem e, acima de tudo, a respeitar e a proteger as mulheres. De Camelot, os cavaleiros partem para combater dragões, gigantes e anões astuciosos; os seus encontros com as “forças do mal” ocorrem habitualmente em castelos assombrados, florestas obscuras e jardins encantados. Orgulhos de seus feitos, regressam sempre ao castelo para contar na corte as suas histórias.
Arthur traz para Camelot a linda Guinevere, para ser a sua rainha. Mas Lancelot é incapaz de resistir à paixão por ela e Mordred, sobrinho de Arthur e filho de Morgana Le Fay, denuncia os amantes, forçando Arthur a condenar a mulher a ser queimada em público. Lancelot salva a rainha e foge com ela para a França. Antes de lançar o seu exército em perseguição aos dois, Arthur entrega seu reino a Mordred, que se aproveita da ausência do rei para executar um golpe de Estado. Ao regressar à Inglaterra, Arthur enfrenta Mordred numa batalha e atravessa-lhe o corpo com sua lança. Mas, antes de morrer, Mordred fere mortalmente o rei.
Os fiéis aliados de Arthur colocaram o rei moribundo num barco, que desliza através de uma bruma branca até Avalon. “Consolai-vos”, grita Arthur para os seus desolados cavaleiros. “Ficai seguros de que voltarei quando a terra da Cornualha precisar de mim.”
A Muralha de Adriano
A chamada Muralha de Adriano, possivelmente, localiza-se no norte da Grã-Bretanha, aproximadamente entre a Inglaterra e a Escócia. Não coincide, contudo, com a fronteira sul escocesa atual. Erguida com a função de prevenir as investidas militares das tribos que viviam na Escócia (os pictos e os escotos – chamados de caledônios pelos romanos), assinalava o limite ocidental dos domínios do Império Romano.
Supõe-se que Arthur reinou do final do século V ao princípio do século VI, dando-se aos anos de 537 d.C. ou 542 d.C. para a data da batalha final com Mordred. Mas na realidade, qual era a situação política naquele reino insular? E quem o governava?
Os romanos tinham pouco a pouco, abandonado o local que dominavam desde a conquista por Júlio César, em 54 a. C. – incapazes de resistir às invasões dos bárbaros, jutos, anglos e saxões à pressão de uma tribo do norte conhecida como pictus. Nos tempos conturbados que se seguiram, surgiram vários chefes guerreiros que enfrentavam os invasores e lutavam entre si. Não existe notícia de um reino unificado nem de um governante maior.
O cristianismo só conseguiu firmar-se na Inglaterra depois da chegada de Santo Agostinho e dos seus 40 monges em 597 d.C. Para grande parte da Europa, foi este o início da Idade das Trevas. O monge galês Nennius, descreve um guerreiro de nome Arthur que chefiou a resistência aos invasores, por volta de 826 d.C. Ele menciona 12 batalhas nas quais Arthur derrotou os bárbaros pessoalmente.
Os Anais da Cumbria compilada por um autor galês anônimo, relativamente no ano de 537 d.C., menciona a “Batalha de Camelan, na qual tombaram Arthur e Medraut”. Não é difícil ler Mordred em vez de Medraut. Mas foi preciso que passassem mais 150 anos para que Arthur voltasse a ser citado por um historiador – apenas uma referência empolgante, mas que aguça o interesse da época. Em 1125 d.C., o monge William de Malmesburyn menciona o guerreiro Arthur, ” o qual merece ser objeto não de contos e sonhos fantasiosos, mas na verdadeira história; pois ele foi durante muito tempo o sustentáculo de sua pátria e incitou à luta o ânimo enfraquecido dos seus conterrâneos”.
Por volta de 1139 d.C. um diácono galês e futuro bispo chamado Godofredo de Monmouth, completou a sua obra “Historia Regum Britanniae”. Aos trabalhos dos historiadores anteriores como Nennius, Godofredo acrescentou detalhes colhidos da tradição local, dos mitos celtas, escandinavos e até da história bíblica. Dois dos 12 livros de Godofredo são dedicados a Arthur, e neles aparecem pela primeira vez o mago Merlin, as histórias do rapto de Guinevere e a traição de Mordred. Ornamentando os registros históricos com acontecimentos imaginativos, introduzindo personagens sobre os quais pouco se sabia. Godofredo instituiu num padrão que foi seguido durante séculos – transformando o guerreiro do século V num rei e herói.
Desenterrando a Corte de Arthur
Com a estória de Arthur tão divulgada e persistente, em 1965 foi constituída a Comissão de Investigação de Camelot, e após cinco anos de escavações em Somerset, os arqueólogos da comissão identificaram as ruínas do Castelo de Cadbury, perto de Glastonbuy, como sendo o local de Camelot.
O lugar no topo de uma colina, fortificado nos tempos pré-romanos, fora escolhido indubitavelmente pela sua posição, que permitia dominar a planície que se estende até o canal de Bristol. O entulho incrustado numa muralha acima do forte original indica que o Castelo de Cadbury continuou a ser utilizado durante os séculos de ocupação romana. Mas a descoberta mais excitante para os investigadores da comissão foram objetos de cerâmica que sugeriam que o local fora usado por um general por volta de 500 d.C. – depois da retirada dos romanos e antes da conquista saxônica.
Quanto ao tão falado cavalheirismo de Arthur, este reinou numa época de lutas selvagens em defesa da integridade territorial e da independência política. O Código de Honra da Cavalaria ainda pertencia ao futuro, às épocas mais pacíficas em que historiadores como Godofredo de Monmouth e Sir Thomas Malory puderam avaliar os tempos calmos em que viveram e impor os seus padrões e os seus valores a um passado que inventaram. Apesar disso, quem vive é o Arthur que eles criaram, não o guerreiro obscuro de uma era tumultuada. O seu reinado glorioso e inesquecível, foi “um breve período luminoso como uma estrela na Idade das Trevas”.
À Procura do Santo Graal
Na versão cristã, no centro da lenda do rei Arthur, situa-se a história da procura do Santo Graal, o cálice em que Jesus bebeu na Última Ceia e que se supunha possuir poderes milagrosos de cura e regeneração. O cálice, juntamente com a lança com que o soldado romano trespassou o lado do corpo do Cristo crucificado, foi entregue a José de Arimatéia, cujos descendentes o levaram para a Inglaterra. Segundo a lenda, um dos guardiões das santas relíquias esqueceu-se de tal forma da sua sagrada missão que olhou com luxúria para uma peregrina – o que fez com que a lança lhe caísse em cima, provocando uma ferida que não sarou. O Santo Graal desapareceu nesta época.
Merlin enviou uma mensagem a Camelot, dizendo ao rei Arthur que iniciasse a busca do cálice perdido, uma analogia à sabedoria antiga. O cavaleiro destinado a encontrá-lo, sugeria o mago, apareceria em breve. Arthur e seus cavaleiros encontravam-se reunidos à volta da Távola Redonda, quando um trovão e um relâmpago precederam uma visão do Santo Graal, que surgiu coberto com um rico pano branco, flutuando através da sala. Pouco depois, um velho entrou na sala e propôs um novo candidato para ocupar o último lugar vago na Távola Redonda. Esse jovem cavaleiro era Sir Galahad, filho de Sir Lancelot.
Durante a procura do Santo Graal, os cavaleiros da Távola Redonda tiveram inúmeras aventuras e foram frequentemente desafiados a fazer sacrifícios que excediam as suas capacidades. Lancelot contudo, viria a ser excluído da busca por não poder se afastar da sua paixão proibida pela rainha Guinevere. A Sir Galahad, como Merlin previra, coube a recompensa de descobrir o Santo Graal e ministrar com ele o santíssimo sacramento.
Ajoelhando diante dele, o jovem cavaleiro compreendeu que a missão da sua vida fora cumprida. Enquanto a sua alma era levada ao Outro Mundo, o seu corpo morto jazia perante o altar. Exatamente dois anos depois, os cavaleiros regressavam a Camelot para contar ao rei a história da sua aventuresca busca. E assim, finalizamos nossa narrativa!
Adaptação da fonte bibliográfica:
Os Grandes Mistérios do Passado – À Procura do Rei Arthur
Reader´s Digest Livros, 1996 – pág. 276 a 280
Rowena A. Senėwėen ®
"Três velas que iluminam a escuridão: Verdade,
Natureza e Conhecimento." Tríade irlandesa.