Os Deuses Antigos

Nó Celta

Ao iniciarmos os estudos no Paganismo Celta, por exemplo, a primeira sensação que nos advém é de que despertamos para algo novo, mas na realidade estamos nos religando às antigas raízes pagãs, a religião natural da terra baseada na espiritualidade céltica, pois o caminho druídico é baseado na crença de Deuses e Deusas, conforme suas tradições, ou seja, irlandesa, galesa, gaulesa e assim por diante.

Algumas pessoas sentem certa dificuldade em relação à conexão com as Deusas. Isto acontece, principalmente, por conta de toda a influência da sociedade patriarcal dominante, assim como a manipulação da igreja para controlar o indivíduo através do medo. Tudo isso é tão forte que, às vezes, chega a causar crises de consciência e muito desconforto, tamanhos são os dogmas impregnados no ser.

Devido ao preconceito e a falta de informação ou conhecimento, muitos ainda confundem paganismo com feitiçaria do “mal” e magia “negra” ou qualquer outra cor que queiram denominá-la. Isso não é correto! E que fique bem claro, politeísmo, druidismo e reconstrucionismo não são sinônimos de “religião do demônio”.

Portanto, na nossa visão, as Deusas representam a essência feminina reprimida durante milênios, principalmente, para controlar o poder sobre a criação, ou seja, sobre a criatividade e restringir a nossa liberdade. O culto aos Deuses não se caracteriza como uma simples filosofia de vida ou uma correlação simbólica de arquétipos. É, acima de tudo, um caminho devocional e individual de autoconhecimento, compartilhado em grupos ou clãs.

Atualmente, um dos ramos do paganismo que mais se popularizou foi a Wicca, idealizada por Gerald Gardner, nos anos de 1950. Porém, a Wicca não é uma “antiga religião celta”, pois além de ser contemporânea, ela reúne em si várias influências de outros panteões e mitologias, trabalha com princípios herméticos e com uma ritualística própria. Mesmo assim, merece todo o nosso respeito como um caminho pagão contemporâneo.

Os celtas adoravam inúmeros Deuses, não havia o conceito de um Deus único ou a Deusa e o Deus, de um modo geral, supõe-se que eles viam os ciclos da natureza, a fertilidade e a soberania como um princípio sagrado, intimamente ligado aos ritos locais. A espiritualidade celta permanece viva ao tentarmos resgatarmos sua história através dos registros arqueológicos e mitológicos, que buscam honrar as divindades, os ancestrais e as energias da natureza.

Os mitos célticos revelam a existência do Outro Mundo, uma dimensão oculta entre colinas, lagos, rios, névoas e bosques sagrados. Avalon é uma lenda, que nos leva direto aos mitos arthurianos e a mitologia galesa, por meio dos contos do Mabinogion, além do Ciclo Mitológico Irlandês e todos os demais ciclos, preservando parte deste conhecimento ancestral compilado em manuscritos.

Basicamente existem três religiões monoteístas predominantes: o islamismo, o judaísmo e o cristianismo. Já as crenças religiosas dos celtas eram politeístas e levantam algumas questões interessantes sobre até onde podemos estabelecer ligações e reconhecer características comuns entre o material histórico e a evidência arqueológica.

Na era paleolítica superior, as crenças pagãs começaram a tomar forma, aproximadamente há vinte e cinco mil anos atrás, por intermédio da arte. Neste período, o ser humano era nômade, suas fontes de subsistência, vinham da caça e da coleta. Além do mais, tudo era muito misterioso e assustador para eles, como o trovão, o sol, a lua, os eclipses e a escuridão.

O mundo era um lugar cheio de perigos, forças estranhas e sobrenaturais, que deveriam ser temidas e respeitadas. Com o tempo, o conceito dessas forças foram evoluindo para a idealização dos Deuses.

Na visão moderna, Cernunnos foi considerado um dos mais importante Deuses entre os celtas gauleses. Como é citado nas fontes clássicas, o Deus de Chifres – Senhor dos Animais, formava na mente do homem da antiguidade, a ideia de um Deus da Caça com galhadas, que simbolizava força, fertilidade e poder, erroneamente comparado ao “diabo” na visão judaico-cristã.

Contudo, não era apenas de caçadas que a tribo sobrevivia, havia também o “mistério” da fertilidade. As tribos precisavam perpetuar a espécie e de tempos em tempos, a barriga das mulheres crescia e, no final de algumas luas, surgia mais um novo membro no clã. No início frágil e pequeno, mas com o passar dos meses crescia, tornando-se grande e forte, dando assim continuidade às futuras gerações.

A mulher era a chave de todo esse mistério, um ser enigmático, que além de sangrar todo mês, sem que viesse a falecer, era a responsável pela continuação da tribo e da alimentação dos seus recém-nascidos, ao verter leite do seu próprio corpo. A partir dessa observação, surgem as Deusas da Fertilidade, possível origem das várias esculturas de figuras pré-históricas, como a famosa escultura de Vênus de Willendorf, destacando-se pelos seios enormes, o ventre volumoso e a vulva protuberante. E que hoje podemos fazer uma analogia à representação da Mãe Terra.

“Na guerra, as Deusas são proeminentes na Irlanda mítica. Deuses celtas e heróis são frequentemente chamados depois do nome de suas mães e não de seus pais, e as mulheres em grande parte dos contos irlandeses, desempenham um papel muito importante. As Deusas dão nome aos grupos de Deuses, suas ações são livres e a personalidade é claramente definida.” Conforme cita J. A. Macculloch em A Religião dos Antigos Celtas.

Ao passo que, no politeísmo celta temos essa visão multifacetada das divindades pré-cristãs, além da soberania da terra e da guerra, que para nós representa a fonte criadora da vida, de onde tudo veio e para onde tudo retornará um dia, inclusive os Deuses. Pense nisso. Que assim seja!

Rowena A. Senėwėen ®
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Referências bibliográficas:
GREEN, Miranda Jane Aldhouse. Celtic Myths. London: University of Texas Press, 1995.
MACCULLOCH, John A. The Religion of the Ancient Celts. Edinburgh: T. & T. CLARK, 1911.
MACKILLOP, James. Dictionary of Celtic Mythology. NY: Oxford University Press Inc., 2004.
MARKALE, Jean. A Grande Epopéia dos Celtas. São Paulo: Ed. Ésquilo, 1994.
STRICKLAND, Carol Ph. D. Arte Comentada – da Pré-História ao Pós-Moderno. Rio de janeiro: Ediouro, 2004.


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