Como vimos anteriormente nas noções básicas, as línguas célticas derivam de dois ramos indo-europeus, conhecidas como: Celta-Q (goidélico), o ramo mais antigo, do qual derivam o Gaélico Irlandês, o Gaélico Escocês, a Língua Manx ou Manquês e o Celtibero; e o Celta-P (galo-britânico), falado pelos gauleses habitantes da Gália, os galeses do País de Gales e os bretões da Bretanha, na França.
Atualmente, o Irlandês Moderno (Gaeilge) emprega o alfabeto latino convencional, embora a reforma ortográfica de 1957 tenha eliminado algumas letras mudas, ainda usado no Gaélico Escocês (Gàidhlig). As letras j (jé), k (ká), q (cú), v (vé), w (wae), x (ex), y (yé) e z (zae) não ocorrem em palavras nativas, somente em algumas palavras inglesas.
Pronúncia das letras do alfabeto convencional:
Aa – B b – C c – D d – E e – F f – G g – H h – I i
[á] – [bé] – [ce] -[dé] – [é] – [eif] – [ge] – [héis] – [í]
Ll – M m – N n – O o – P p – R r – S s – T t – U u
[eil] [eim] [ein] [ó] [pé] [ear] [eas] [té] [ú]
As vogais irlandesas propriamente ditas são cinco: a, e, i, o, u. Costuma-se acrescentar “ea”, que é sempre breve e tem o mesmo som de a. Como no latim, o gaélico irlandês possui: vogais longas ou breves.
As vogais longas geralmente são indicadas na escrita pelo acento agudo. As vogais longas são: á, é, í, ó, ú. Estas vogais são sempre pronunciadas como tais, em qualquer posição na palavra. As vogais breves são: a, ea, e, i, o, u. As vogais breves são pronunciadas somente quando ocorrem em sílaba tônica. Todas as vogais em sílaba átona (as que não são tônicas nem subtônicas) – são pronunciadas como uma vogal neutra.
Em português e em muitas outras línguas, enquanto as vogais são sempre sonoras, as consoantes podem ser ou não produzidas com uma vibração das cordas vocais. O irlandês possui o mesmo traço distintivo entre consoantes surdas e sonoras. Porém, há outro traço não compartilhado com o português, onde o português usa somente um tipo de “p”, o irlandês emprega dois, e o mesmo se aplica às demais consoantes.
As consoantes b, d, f, c (k), l, m, n, p, s, t – têm o mesmo som que em português, contudo é importante observar que, no caso de m-n, nós fechamos os lábios na pronúncia do “m”, mas deixamos abertos na pronúncia do “n”, como em noite. Essa é apenas uma comparação aproximada. No irlandês o fenômeno não se limita apenas às duas consoantes, já que uma mesma consoante pode assumir as duas formas.
Conforme essa regra, uma consoante velar (aproximação ou o contato da língua com o palato mole), é indicada por uma vogal “aberta”: a, o ou u, e uma palatal por uma “fechada”: e ou i. Muitas distinções semânticas também se fazem através desse mecanismo. Como por exemplo, em velar: éan [e:n] “pássaro”, palatal: éin [e:ŋ] “pássaros”.
Em termos fonéticos, as consoantes “fechadas” são palatalizadas: “ie” pronuncia-se com o dorso médio ou anterior da língua tocando ou aproximando-se do palato duro, ao passo que as “abertas” são labiovelarizadas: “ie” produzidas com o estreitamento ou a oclusão do palato mole e o dorso posterior da língua, em combinação com o arredondamento dos lábios.
Resumindo, as consoantes palatalizadas soam como se fossem seguidas da semivogal “y” e as labiovelarizadas como se fossem seguidas da semivogal “w”. Há situações em irlandês em que o falante é obrigado a labiovelarizar ou a palatalizar a consoante final de uma palavra. Para formar o genitivo de alguns nomes tem que palatalizar, outros, teremos que labiovelarizar. Por exemplo:
Pronúncia das principais consoantes:
– b > /b/
bád = barco
beoir = cerveja
– bh > /w/
mo bhád = meu barco
an bheoir = a cerveja
Quando aberto, o dígrafo “bh” é sempre pronunciado como /w/. Porém, antes de l e r soa como /v/.
– c > /k/
cat = gato
ceann = cabeça
– ch > /kh/
mo chat = meu gato
mo cheann = minha cabeça
Quando aberto, o dígrafo “ch” é pronunciado como o gaélico escocês “loch”. Quando fechado, é pronunciado na parte mais frontal da boca como o alemão “Ich”.
– d > /d/
doras = porta
– /dj/
deoch = bebida
Quando aberto, o “d” soa como o português, quando fechado, como o “j” (djei) em inglês.
– dh > /y/
mo dhoras = minha porta
mo dheoch = minha bebida
Quando fechado, o dígrafo (grupo de duas letras que representa um único fonema: lh, nh, ch, rr, ss), “dh” soa exatamente como “y” (uai) em inglês. Quando aberto, é mais gutural.
– f > /f/
fada = longo fear = homem
– fh
an-fhada = muito longo
don fhear = para o homem
O dígrafo “fh” é sempre mudo.
– g > /g/
gairdín = jardim geata = portão
– gh > /g/
sa ghairdín = no jardim
– /y/
mo gheata = meu portão
O dígrafo “gh” – tanto aberto como fechado – se comporta como “dh”.
– h > /h/
hata = chapéu l >
– /l/
lón = almoço
leabhar = livro
– ll > /l´/
balla = muro, parede
billeog = folha, folheto
– m > /m/
máthair = mãe méar = dedo
– mh > /w/
mo mháthair = minha mãe mo mhéar = meu dedo
O dígrafo “mh” – tanto aberto como fechado – se comporta exatamente como “bh”.
– n > /n/
naomh = santo neamh = céu
– nn > /n/
donn = marron binne = doçura
– ng > /ŋ/
rang = classe daingean = fortaleza
– p> /p/
Pádraig = Patrick Peadar = Peter
– ph > /f/
a Phádraig = Ó Patrick (vocativo)
a Pheadar = Ó Peter (vocativo)
– r > /r/
rothar = bicicleta
rince = dança
O “r” fechado – quando ocorre no início da palavra – pronuncia-se com a língua achatada contra o palato. É um som vibratório /rzh/ – não é usado no português.
– s > /s/
salach = sujo
sean = velho
Quando fechado, o s é pronunciado como /h/ aspirado.
– sh > /h/
ró-shalach = muito sujo
ró-shean = muito velho
O dígrafo “sh” também é sempre pronunciado como /h/ aspirado.
– t > /t/ Tomás = Tomás
– /kh/ teach = casa
Quando fechado, o “t” é pronunciado como o dígrafo “ch”. É a contraparte surda do “d”.
– th > /h/
a Thomáis = Ó Tomás (vocativo)
mo theach = minha casa O dígrafo “th” é sempre pronunciado como /h/ aspirado.
Fonte bibliográfica e de estudo:
Baseado no texto original de João Bittencourt de Oliveira: Alguns Aspectos Fonológicos do Irlandês.
– Gaeltachta: History of the Irish Language
– Colloquial Irish – The Complete Course
– BBC Ireland – Colin and Cumberland
– Línguas Celtas – Citações Wikipédia
– FORVO: Irish Pronunciation
– Projeto ABAIR: Pronúncias
Rowena A. Senėwėen ®
Todos os direitos reservados.
(Texto atualizado em 18/09/2020)
"Três velas que iluminam a escuridão: Verdade,
Natureza e Conhecimento." Tríade irlandesa.