Deuses Celtas

Nó Celta

Os celtas, provavelmente, não misturavam panteões de outras culturas e nem cultuavam deuses de outras tribos, apesar das semelhanças entre eles, cada clã celebrava os numes locais seguindo apenas as referências das tradições pertencentes a sua terra natal, com exceção de algumas divindades pan-célticas. Os Deuses Celtas possuíam virtudes e funções específicas, além de atributos distintos, com uma grande variedade de nomes e epítetos inseridos nas mais de 400 deidades verificadas na arqueologia. A seguir, alguns dos principais Deuses Celtas e suas tradições.

Mitologia Irlandesa

– Áine: Deusa da fertilidade e do verão. Rainha dos reinos feéricos das Tuatha Dé Danann, sua colina é conhecida como “Cnoc Áine” (Monte de Áine). É a soberana da terra que combate o amor abusivo. Associada ao solstício de verão, às flores e as fontes de água. Áine (pronuncia-se Enya) – filha de Manannán Mac Lir – podia assumir a forma de uma égua vermelha. Como Deusa solar representa o sol brilhante do verão. Na tradição gaélica, o Sol é feminino e em irlandês se chama Grian. No folclore local Grian é considerada o sol de inverno e irmã de Áine.

– Angus Mac Og / Oengus: Deus da juventude, do amor, da beleza e da inspiração poética, das Tuatha Dé Danann. Era filho de Dagda e Boann e, assim como o pai, possuía uma harpa mágica, que produzia um som doce e irresistível. Foi associado à “Brugh na Bóinne” (Newgrange – Irlanda). Angus se apaixonou por Cáer Ibormeith, uma linda jovem do Sídhe que se transformava em cisne, mas somente a via em sonhos. Essa lenda faz parte do Ciclo Mitológico Irlandês, conhecida como: o Sonho de Oengus, Aislinge Oengusso.

– Badb: Deusa da guerra, dos campos de batalha e das profecias. Era conhecida como: o Corvo de Batalha ou a Gralha Escaldada. Com suas irmãs, Macha e Morrighan, formava um trio de Deusas guerreiras, as filhas da Deusa-mãe Ernmas, que morreu em “A Primeira Batalha de Magh Turedh”, conto que descreve como as Tuatha Dé Danann tomaram a Irlanda dos Fir Bolg. Badb rege a morte, a sabedoria e a transformação.

– Bilé: Considerado o pai dos Deuses e dos homens. Companheiro de Danu e pai de Dagda, o principal líder das Tuatha Dé Danann. Alguns mitos dizem que ele era o antepassado dos Milesianos, último grupo de soldados liderados por Mil Espáine, que invadiram a Irlanda na época de Beltane e derrotaram as Tuatha. Bilé é o Deus do Outro Mundo e da morte, considerado como o “primeiro ancestral”, associado às fogueiras da purificação. Na tradição irlandesa “Bilé” significa “Árvore Sagrada”, e pode representar uma árvore ou um ponto de referência central a um local religioso ou altar.

– Brigit / Brigid / Brighid / Brig: Deusa reverenciada pelos Bardos, tanto na Irlanda como na antiga Bretanha, cujo nome significa “Luminosa, Poderosa e Brilhante”. Brighid, a Senhora da Inspiração, era filha de Dagda, associada à Imbolc e as águas doces de poços ou fontes, que ficam próximos às colinas. É a Deusa do fogo, da cura, do lar, da fertilidade, da poesia e da arte, especialmente a dos metais. Brighid também é uma Deusa guerreira, conhecida como “Bríg Ambue“, a protetora soberana dos Fianna. Brighid era consorte de Bres e mãe de Ruadan, que foi morto ao espionar os Fomorianos. Ela sentiu profundamente a morte do filho, dando origem ao primeiro lamento poético de luto irlandês, conhecido como keening.

– Boann / Boand / Boyne: Deusa que deu nome ao rio Boyne, na Irlanda, descrito nos poemas “Dindshenchas” – lendas relacionadas à origem dos nomes dos lugares sagrados da Irlanda – do Ciclo Mitológico Irlandês e na lenda do “Salmão da Sabedoria”. Ela era esposa de Nechtan, o Deus do rio. Também é mãe de Angus Mac Og com o grande Dagda. Para esconder o adultério de Boann, Dagda usou o seu poder para esconder a gravidez de Boann, fazendo uma viagem de nove meses parecer ser de apenas em um dia e uma noite. É a deusa da fertilidade, da abundância e da prosperidade.

 Cailleach:É a Deusa da terra e das rochas, diz a lenda que ela criou os morros e as montanhas a sua volta, ao atirar pedras em um inimigo. Na mitologia irlandesa e escocesa é conhecida também como a “Cailleach Bheur”, que significa mulher velha. No Livro de Lecan menciona que ela teve sete períodos juvenis, se casou com sete maridos e teve cinquenta filhos adotivos que fundaram muitas tribos. Geralmente é vista como a Deusa da última colheita (Samhain), dos ventos frios e das mudanças, aquela que controla as estações do ano, a Senhora das pedras e das rochas, mais antiga que o próprio tempo.

– Dagda: Deus da magia, da poesia, da música, da abundância e da fertilidade. No folclore irlandês, Dagda era chamado de “O Bom Deus”, possuía todas as habilidades sendo bom em tudo, “Eochaid Ollathair” (Pai de todos) e “Ruad Rofhessa” (Senhor de Grande Sabedoria), considerado mestre de todos os ofícios e senhor de todos os conhecimentos. Consorte de Boann, teve vários filhos, entre eles Brighid, Angus, Midir, Finnbarr, Cermait e Bodb, o Vermelho. Dagda tinha um caldeirão mágico, o Caldeirão da Abundância, que nunca se esvaziava e uma harpa de carvalho chamada “Uaithne”, que fazia com que as estações mudassem, quando assim o ordenasse. Além disso, tinha um casal de porcos mágicos que podiam ser comidos várias vezes e que sempre reviviam, bem como, um pomar que dava frutos o ano todo, clava mágica e um cavalo preto chamado Acéin.

Dana / Danu / Anann: Apesar da controvérsia da sua existência é considerada a Deusa Mãe dos Deuses das Tuatha Dé Danann, o Povo Mágico (Daoine Sídhe), a tribo dos seres feéricos. A Terra de Ana (Iath nAnann), às vezes, é identificada como Anu ou Ana, seu nome significa “Conhecimento”. Era consorte de Bilé e mãe de Dagda. Em Munster, na Irlanda, foi associada a dois morros de cume arredondados, chamados de “Dá Chích Anann” ou “Dois Seios de Anu”, por se parecem com dois seios. É a Deusa da fertilidade, da terra e da abundância.

– Dian Cecht / Diancecht: Deus da cura foi o grande médico das Tuatha Dé Danann, responsável pela restauração cirúrgica do braço de Nuada ao transplantar outro braço/mão de prata. Diancecht era irmão de Dagda e teve vários filhos, entre eles Airmid, Etan, Cian, Cethé, Cu e Miach. Seu nome significa “Rápido no poder”.

– Erin / Eriu: Filha de Fiachna e Ernmas, descrito no Lebor Gabála Érenn (Livro das Invasões). Junto com suas irmãs Banba e Fotla, Erin era uma das três rainhas das Tuatha Dé Danann, que deu seu nome à Irlanda (Éire), através de uma promessa feita por Amergin Glúingel, após a invasão dos Milesianos.

– Flidais: Deusa da floresta, dos bosques, da caça e das criaturas selvagens, representa a força da fertilidade e da abundância. Viajava numa carruagem puxada por cervos e tinha uma vaca mágica que dava muito leite. Seu nome significa “Doar”, elucidado no conto de “Táin Bó Flidais” – O Roubo do Gado de Flidais, da saga do “Táin Bó Cuailnge”. Tinha o poder de se metamorfosear nna forma de uma corça com chifres de três pontas.

– Goibniu / Goibhniu: Grande ferreiro, construtor e mestre da magia. Goibniu, junto com Credne e Luchta, formavam os três artesãos divinos, conhecidos como os “Trí Dé Dána”. Foi quem forjou as armas das Tuatha Dé Danann e criou o novo braço para o rei Nuada. Suas armas sempre atingiam o alvo e a ferida provocada por elas, era fatal. Deus dos ferreiros, das habilidades culinárias e do trabalho com metais em geral.

– Lir / Lear: No folclore irlandês, Lir era o Deus do mar, considerado também, o Senhor do submundo (o mundo dos ancestrais), da magia e da cura. Lir era pai de Manannán Mac Lir e das crianças Fiachra, Conn, Fingula e Aod, que foram transformadas em cisnes por causa do ciúme da sua madrasta Oifa, segunda esposa de Lir, nos contos do Ciclo Mitológico Irlandês, conhecido como: O Destino dos Filhos de Lir.

– Lugh / Lug / Lugus: Um dos grandes heróis da mitologia irlandesa, Lugh era filho de Cian (neto por parte dos Dananns de Dian Cecht) e de Ethniu, filha de Balor, rei dos Fomorianos. Uma profecia dizia que Balor seria morto por seu neto. Para evitar esse destino, mandou dar fim nos netos, mas Lugh sobreviveu e foi criado por Tailtiu, sua mãe adotiva e tutelado por Manannán. Sua festividade é Lughnasadh, a festa de Lugh, a primeira colheita. Conhecido pelos epítetos de “Lugh Lámfada” – Lugh dos braços longos e “Lugh Samildanach” – Lugh, o artesão múltiplo ou Ildánach. Lugh é o Deus dos ferreiros, cujo domínio incluía a magia, as artes e todos os ofícios em geral. Era pai de CuChulainn com Dechtire. Seu nome significa “Luz” – brilhante como o Sol. Guardião da espada mágica e da lança invencível, vinda da cidade de Gorias, um dos quatro tesouros das Tuatha Dé Danann.

– Macha: Deusa da fertilidade e da guerra, filha de Ernmas, junto com as irmãs Badb e Morrighan, podia lançar feitiços sobre os campos de guerra. Após uma batalha os guerreiros cortavam as cabeças dos inimigos e ofereciam a Macha, sendo este costume chamado de a “Colheita de Macha”. É a Deusa dos equinos, que durante a gravidez foi forçada a uma corrida de cavalos. Quando chegou ao final, entrou em trabalho de parto e deu à luz a gêmeos. Antes de morrer, Macha colocou uma maldição sobre os homens da província para que em tempos de opressão e maior necessidade, eles sofreriam dores como as de um parto.

– Manannán Mac Lir: Filho de Lir, associado ao mar e ao Outro Mundo, homenageado como uma das principais divindades ctônicas e marítimas, além de reverenciado como protetor dos marinheiros. Viaja pelo mar muito mais rápido que o vento em um barco mágico puxado por um cavalo branco chamado Enbharr, que significa “Espuma de água”. Mestre na mudança de forma e da magia. Ele reside em Emhain Abhlach, a Planície das Maçãs e governa as ilhas bem-aventuradas. Quando os Dananns foram derrotados pelos Milesianos, foi Manannán quem os levou à Tir na nÓg, através de colinas subterrâneas, o Síde. Manannán é o Psicopompo, o condutor que possui a armadura impenetrável, a capa mágica do esquecimento e da invisibilidade ou a féth fíada, o ramo de prata e a taça da verdade. Em algumas versões dos mitos é marido ou pai de Áine, assim como de Niamh, Cliodhna, Curcog e Athrachta.

– Morrigu / Morrigan / Morrighan: É a Grande Rainha “Mor Rioghain da tribo das Tuatha Dé Danann. Senhora Suprema da Guerra, possuía uma forma mutável e o poder de predizer o futuro. Reinava sobre os campos de batalha junto com suas irmãs Macha, Badb ou Nemain, conhecidas pelo nome das “Três Morrígans”, relacionadas à triplicidade que, para os celtas, significava a intensificação do poder. Durante o Samhain se relacionou com Dagda para ajudar as Tuatha Dé Danann na Segunda Batalha de Moytura. No Táin Bó apaixonou-se pelo herói CuChulainn, que despertou sua fúria ao rejeitá-la. Deusa da morte, da soberania, do amor físico e da justiça. Associada aos corvos, podia mudar sua aparência à vontade, como em enguia, loba cinzenta e uma novilha avermelhada.

– Nuada: Reverenciado como grande rei e líder das Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído por uma prótese de prata, mas por causa da tradição de não ser mais perfeito fisicamente, foi substituído por Bres (meio fomoriano). Ficou conhecido como “Nuada, Braço de Prata” ou “Nuada, Mão de Prata”. Mais adiante, com um novo braço de carne e osso, restaurado por Miach, filho de Dian Cecht, voltou a reinar, banindo Bres por falta de hospitalidade e opressão. Nuada Argetlámh era o Deus da guerra, da justiça e da honra.

– Ogma / Oghma: Deus da eloquência, da vidência e mestre da poesia, segundo o Livro de Ballymote, foi quem inventou o alfabeto oracular do “Ogham”, utilizado pelos antigos Druidas, baseado em árvores sagradas e arbustos. Ogma é meio-irmão de Dagda, Bres e Lugh. Era um guerreiro de grande força, o campeão dos Deuses, retratado como um ancião com sorriso radiante (Grianainech), vestindo casaco de pele e carregando arco e bastão.

– Scathach / Scatha / Scath: Seu nome significa a “Sombra”, aquela que combate o medo. Deusa guerreira e profetisa que viveu na Ilha de Skye, na Escócia. Ensinava artes marciais para guerreiros que tinham coragem suficiente para treinar com ela durante um ano e um dia, pois era dura e impiedosa. Considerada a maior guerreira de todos os tempos e responsável por treinar CuChulainn, a quem ela ensinou seu famoso salto de batalha e lhe deu a Gáe Bolg, a lança terrível.

Mitologia Galesa

Para um melhor entendimento, devemos observar que o termo Galês se refere aos povos que habitam o País de Gales. Abordaremos suas famílias divinas.

– Arawn: É o rei de Annwn ou Annwfn (Outro Mundo), o submundo na tradição galesa, visto como um castelo sobre o mar – Caer Siddi (Fortaleza das Fadas) ou Caer Wydyr (Fortaleza de Vidro). Como Tir na nÓg irlandesa, Annwn era um lugar de doçura e encanto. Arawn possuía um caldeirão mágico, descrito no poema de Taliesin, “Os Espólios de Annwn” e que descreve a viagem de Arthur e seus companheiros ao Outro Mundo, para resgatarem o Caldeirão da Abundância. Na literatura arthuriana, ele aparece como Gwyn ap Nudd, filho de Nudd ou Ludd, rei de Tylwyth Teg (Povo das Fadas).

– Arianrhod / Aranrhod: Era filha de Dôn e Beli Mawr. O seu nome significa “A Roda de Prata”, mas a sua grafia mais antiga é Aranrot (“Monte Circular”). Arianrhod do aspecto louvável é a virgem que dá à luz os filhos Lleu e Dylan, depois de passar num teste de magia feito pelo seu tio, Math. É a Deusa das iniciações, da justiça e da soberania. Senhora do destino e do renascimento, vivia num castelo estelar chamado “Caer Arianrhod”, associado à constelação Corona Borealis. O mito retratado nos contos do Mabinogion em “Math, filho de Mathonwy”, descreve um “tynged” (uma restrição como o “geas” irlandês), no qual Arianrhod negou a Lleu: um nome, armas e uma esposa. Nas Tríades da Bretanha, na Tríade 35, uma possível continuação do Mabinogi, diz que Arianrhod se casa com Lliaws, filho de Nwyfre (o firmamento), e teve outros dois filhos, Gwenwynwyn e Gwanar.

– Arddhu / Arddu: O “Escuro” no folclore galês representa o Grande Corvo Divino, uma divindade que habitava as matas e as florestas. É representado também por um homem com o rosto todo coberto por folhas verdes, como Green Man, descrito no ciclo arthuriano em “Sir Gawain e o Cavaleiro Verde”. Ao norte do País de Gales, há uma colina com uma pedra muito grande chamada “Maen du yr Arddu” – a Pedra Negra de Arddu; diz a lenda se duas pessoas passassem uma noite no topo dessa pedra, na manhã seguinte, uma seria dotada com o dom da inspiração poética e a outra ficaria louca.

– Blodeuwedd / Blodeuedd: Uma mulher feérica feita a partir de nove tipos de flores silvestres, por Math e Gwydion, para ser a esposa de Lleu (filho de Arianrhod), que depois foi transformada em coruja por causa da traição contra o marido. Seu nome significa “Rosto de Flor”, representada muitas vezes como um lírio branco. Deusa do amanhecer nos mitos galeses, é retratada nos contos do Mabinogion em “Math, filho de Mathonwy”.

– Bran: O “Abençoado” ou Bendigeid Fran. Bran é um dos grandes heróis do ciclo galês. Filho de Llyr e Penarddun, irmão de Manawydan e Branwen. Bran era um gigante, muito mais alto que uma árvore. Ao saber da situação de desprezo e maus-tratos em que vivia sua irmã, liderou uma expedição para resgatá-la, mas durante o combate foi mortalmente ferido por um dardo envenenado no pé. Porém, antes pediu que cortassem sua cabeça e ordenou que seus homens a enterrassem no Monte Branco, em Londres. Bran possuía o Caldeirão do Renascimento, com a propriedade de restaurar a vida dos mortos. Associado aos corvos, Bran é o Deus da profecia, da morte e da abundância.

Branwen: Ela se casa com Matholwch, rei da Irlanda e mais adiante lhe dá um filho, chamado Gwern. No entanto, Efnisien, o seu meio-irmão não aceita a aliança entre os reinos e insulta o povo irlandês, mutilando seus cavalos. Como punição Branwen foi obrigada a trabalhar de copeira no castelo e da sua cozinha-prisão, treinou um estorninho para levar mensagens ao País de Gales, descrevendo sua situação e pedindo ajuda ao irmão Bran. Durante a contenda Bran e o filho falecem, Branwen com o coração partido morre de tristeza ao saber. Deusa da esperança , descrita nos contos do Mabinogion em “Branwen, a Filha de Llyr”.

Beli: É consorte de Dôn, conhecido como Beli Mawr. Beli é um antigo Deus galês, considerado como um grande líder e o maior ancestral dos galeses. Corresponde a Belenus para os gauleses e Bilé para os irlandeses. Também é o pai de Caswallon, Llefelys, Afallach, Nynniaw e Peibaw.

– Cerridwen / Ceridwen / Kerridwen: Esposa de Tegid Voel, o Calvo, mãe da linda donzela, Creirwy, Morvran e Afagddu, um rapaz feio e desfavorecido. Cerridwen decide fazer para o filho Afagddu uma poção no Caldeirão da Inspiração que, após um ano de fervura, produziria três gotas da “Awen”, concedendo-lhe todo o conhecimento do passado, presente e futuro. Ela coloca Morda, um homem cego para cuidar do caldeirão e seu ajudante, Gwion Bach. Enquanto ela preparava os ingredientes, acidentalmente três gotas da poção caem no dedo de Gwion Bach, que o suga e alcança toda a iluminação. Furiosa, Cerridwen o persegue numa caçada mágica. Até que ele se esconde na forma de um grão de trigo e ela se transforma em uma galinha negra e o engole. Após nove meses, a Deusa dá à luz ao Bardo Taliesin, Gwion Bach reencarnado – descrito em “Hanes Taliesin”. As lendas contam que Myrddin (Merlin) pode ter sido o sucessor de Taliesin. Por isso, os bardos galeses chamavam a si mesmos de “Cerddorion”, os filhos de Cerridwen (a mulher curvada). O caldeirão está associado à fertilidade, a regeneração, a mudança de forma, ao renascimento e a inspiração poética.

– Dôn: A Deusa-mãe galesa é consorte de Beli, filha de Mathonwy e irmã de Math, nos contos do Mabinogion em “Math, filho de Mathonwy”. Dôn era mãe de Arianrhod, Penarddun, Amaethon, Nudd, Govannon, Gwydyon e Gilvaethwy. É considerada a Deusa da terra e das estrelas, da fertilidade e da abundância.

– Dylan: Filho das ondas do mar (Dylan Eil Ton), o menino dos cabelos de ouro é o Deus do mar para os antigos galeses. Filho de Arianrhod, irmão gêmeo de Lleu e sobrinho de Gwydion. Seu símbolo é um peixe prateado, dos contos do Mabinogion em “Math, filho de Mathonwy”.

– Gwydion: Filho de Dôn, considerado o maior contador de histórias, mestre da magia e das ilusões. Regia as mudanças de forma e a poesia. No poema A Batalha das Árvores (Cad Goddeu), encanta árvores para lutar com ele. Gwydion era irmão de Arianrhod e, provavelmente, pai dos seus filhos, Lleu e Dylan. Foi ele quem ajudou Lleu a superar as restrições da sua mãe, além de ajudar a criar uma esposa (Blodeuwedd) para o sobrinho, no Mabinogion em “Math, filho de Mathonwy”.

– Lleu: Era irmão gêmeo de Dylan, filho de Arianrhod, sobrinho de Gwydion e consorte de Blodeuwedd. Deus da terra, seu nome significa “Luz” e foi associado ao brilho do Sol (Lleu Llaw Gyffes), nos contos do Mabinogion em “Math, filho de Mathonwy”.

– Llyr: Antigo Deus galês do mar, equivalente a Lir, o Deus irlandês do mar. Consorte de Penardun, filha de Dôn e Beli. É o pai de Manawydan, Bran e Branwen – descrito no Quarto Ramo do Mabinogi em “Manawyddan, o Filho de Llyr”.

– Mabon: Deus da juventude, das nascentes dos rios e caçador. Mabon era filho da Deusa Modron e de acordo com os mitos galeses, foi sequestrado de sua mãe, quando tinha apenas três noites de vida, conforme os contos do Mabinogion em “Culhwch e Olwen”. É ele quem ajuda Arthur na caçada ao grande javali Twrch Trwyth com sua magia, após ser libertado de “Caer Loyw”, o Castelo Brilhante.

– Modron: Deusa-mãe galesa, seu nome significa “Mãe”. Modron era a mãe de Mabon, mencionado no conto de “Culhwch e Olwen”. É a Deusa da terra e da fertilidade, possivelmente está relacionada à divindade gaulesa “Dea Matrona” – a “Mãe Divina”, Deusa do rio Marne na Gália.

– Manawyddan / Manawydan: Era filho de Llyr e Penarddun, filha de Beli. É considerado como correlato ao Deus irlandês Manannán, embora suas histórias sejam diferentes. Foi descrito nos contos do Mabinogion em “Branwen, a Filha de Llyr” e aparece como herói no conto “Manawyddan Filho de Llyr”, onde se casa com Rhiannon, tornando-se o seu segundo marido.

– Rhiannon: A grande rainha dos galeses, a Rigantona. Rhiannon era a protetora dos cavalos e das aves. É a Deusa dos encantamentos e da fertilidade, equivalente a Macha, na mitologia irlandesa e Epona, na mitologia gaulesa. Rhiannon teve seu filho roubado logo que ele nasceu e foi acusada, injustamente, por sua morte. O bebê foi achado anos depois e restituído a sua mãe, que passou a chamá-lo de Pryderi, descrito nos contos do Mabinogion em “Pwyll, Príncipe de Dyfed”. No terceiro ramo do Mabinogi, Pryderi se torna senhor de Dyfed, ao sucedeu seu pai, Pwyll. Rhiannon fica viúva e se casa com Manawyddan, e ele ganha assim a soberania sobre Dyfed, sudoeste do País de Gales.

Mitologia Gaulesa

O termo Gaulês se designa a um conjunto de povos celtas que povoaram a Gália, que corresponde aos territórios que vão da França à Itália setentrional, reconhecidas pelo Império Romano como Gália Transalpina ou Narbonense (Sul da França) e Gália Cisalpina ou Transpadana (norte da Itália).

– Bel / Belenus / Belenos: Seu nome significa “Brilhante”, é considerado o Deus do fogo e da luz do conhecimento, nos mitos gauleses. Belenos dá seu nome ao festival de Beltane e está relacionado às fogueiras que são acesas em colinas para promover a purificação. Foi associado à Beli Mawr na tradição galesa e a Bilé na tradição irlandesa; uma das deidades célticas mais veneradas.

– Cernunnos: Um dos mais antigos Deuses celtas, encontrado tanto entre os celtas continentais como vestígios entre os insulares. Deus da fertilidade, dos animais, da natureza, dos bosques e da abundância. Seu nome é pronunciado como se tivesse um “k” (Kernunnos) e faz referência ao carnyx (trombeta de guerra). É representado por uma divindade com galhadas de cervo, sentada de pernas cruzadas, com um torque (colar celta) no pescoço e rodeado por vários animais, como no Caldeirão de Gundestrup, artefato feito em prata, no período de La Tène, por artesãos trácios e em estilo celta, onde se destaca os seguintes símbolos: um torque em sua mão direita e a serpente na mão esquerda, rodeado por um veado à direita e um javali à sua esquerda. Cernunnos é o guardião do Submundo, considerado o mestre do caminho.

– Epona: Deusa protetora dos cavalos, seu nome significa “Deusa do Cavalo Divino”. Foi representada montada num cavalo ou numa égua, rodeada por potros e cavalos. Epona é a Deusa da fertilidade, da maternidade, da abundância e dos animais, associada a proteção, prestígio e poder. Podemos identificá-la como Rhiannon, na tradição galesa e Macha, na irlandesa.

– Rosmerta: Deusa da soberania, da fertilidade e da abundância, considerada a “Grande Provedora” e muito popular na Gália. Foi associada às colheitas e retratada carregando uma cesta de frutas, possivelmente uma cornucópia. Seria a responsável pelo crescimento e o amadurecimento dos frutos.

– Sucellus: Deus gaulês da fertilidade, das florestas e da agricultura. Considerado como o rei dos Deuses na mitologia gaulesa, seu nome significa “Atacante”. Usava uma coroa de folhas na cabeça, acompanhado por um cão de caça e carregava um grande martelo, usado para bater na terra e acordar as plantas, anunciando o início da primavera.

– Taranis / Taranos: É considerado o Deus do trovão e dos relâmpagos, na mitologia gaulesa. Dizem as lendas que Taranis cruzava os céus numa carruagem de fogo, produzindo raios através das fagulhas que saíam dos cascos dos cavalos e o ruído do trovão através das rodas da carruagem. Mestre da guerra, seu símbolo é a roda e junto com Teutates e Esus formavam uma tríade das principais divindades guerreiras da Gália, invocados em tempos de guerra como de paz.

Rowena A. Senėwėen ®
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(Atualizado em 21/05/2023)

Referências bibliográficas:
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MONAGHAN, Patricia – The Encyclopedia of Celtic Mythology and Folklore – Facts On File: New York, 2004.
SQUIRE, Charles – Mitos e Lendas Celtas – Ed. Nova Era, 2003.

"Três velas que iluminam a escuridão: Verdade,
Natureza e Conhecimento." Tríade irlandesa.

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