Irlanda Ancestral

Nó Celta

A Irlanda foi preservada na tradição como um dos poucos países que permaneceram sem a influência direta dos romanos. A história irlandesa abrange desde os primórdios da história celta, entre 430 a.C. até os meados de 1533 d.C., início da idade moderna no mundo ocidental, promovendo a formação e o desenvolvimento político-social, econômico, cultural e religioso de Dublin, sua capital e maior cidade. O nome da capital em inglês deriva da palavra irlandesa “Duibhlinn”, que significa “Lago Negro”.

Conforme descreve o arqueólogo irlandês Robert Alexander Stewart Macalister, com o conhecimento do ferro e da arte importada da Gália, vieram também o conhecimento do alfabeto latino; embora os manuscritos ainda fossem desconhecidos, uma pequena classe de sacerdotes alfabetizados se desenvolveu, e as lendas até então transmitidas oralmente por seus bardos passou a ser escrita em gaélico.

É neste período que devemos atribuir o início da história escrita, promulgações legais e poemas rapsódicos ou melodias populares, que formaram a base da literatura irlandesa. Podendo ser caracterizada como:

– Proveniente de caráter mitológico, repleta de heróis e lendas etc. Nada é estritamente histórico ou meramente filosófico. O objetivo era somente “cantar a glória” de seus reis e príncipes, principalmente, no que se referia às batalhas que seus ancestrais lutaram.

– Composta de uma sociedade heroica e aristocrata que admirava a lealdade, a coragem, a honra e a hospitalidade.

– Algumas vezes os Deuses interferiam nos romances dos mortais, tanto Eles quanto o Outro Mundo são bem presentes nos mitos.

– Existia quase sempre um tipo de padrão “romântico” repentino, obsessivo e que durava até a morte. Às vezes, trazendo mágoas ou tristezas.

– As tradições irlandesas foram descritas por poetas, em prosas e não em poesias rimadas. Elas podiam ser de sátiras, lamentos ou louvores.

Os antigos ancestrais irlandeses, segundo as lendas, descendem de grupos que povoaram a Ilha de Erin (Irlanda), com a chegada de Cessair e das tribos Partholonianos, Nemedianos, Firbolg, Tuatha Dé Danann e os Milesianos, de acordo com a tradição do “Lebor Gabála Érenn” – O Livro das Invasões, uma coleção de manuscritos redigidos em forma de poema e prosa, que narram as origens míticas da Irlanda pré-cristã.

Portanto, a literatura ancestral da Irlanda foi transcrita por monges e divididas em ciclos, da seguinte maneira:

1. Ciclo Mitológico Irlandês: a história mítica da Irlanda que começa com uma série de invasões até a chegada dos Milesianos, os filhos de Míl Espáine.

2. Ciclo do Ulster: descreve o ciclo sobre o reinado de Conchobar Mac Ness, Rei de Ulster, no início da era cristã, os feitos do herói CuChulainn e as aventuras dos guerreiros Ulaid, chamado antigamente de “Ciclo do Ramo Vermelho”.

3. Ciclo Feniano: contos e baladas, por volta do século III, sobre a trajetória de Fionn Mac Cumhaill e o Salmão do Conhecimento, além do seu exército de guerreiros, os Fianna.

4. Ciclo dos Reis: ciclo das histórias e feitos dos reis Milesianos, que inclui alguns períodos históricos do Ciclo do Ulster, presentes nos anais irlandeses.

As descrições dos ciclos coletados na literatura irlandesa são encontradas em vários livros como: “O Livro de Leinster”, “O Livro de Lecan”, “O Livro Amarelo de Lecan”, “O Livro de Balymote”, “O Livro de Lismore” e diversos outros manuscritos, com datas e narrações diferentes. Datar os contos da mitologia irlandesa é tarefa difícil, a maioria foi escrita durante a Idade Média e não na Irlanda Antiga. Antes do século 5 d.C., nenhuma dessas histórias pareciam ter sido descritas da mesma forma. [Dólmen de Poulnabrone, Irlanda.]

O Ciclo Mitológico é anterior ao ciclo de Ulster, pois são cópias com datas mais antigas. Sendo assim, a maior parte do conhecimento da Irlanda celta e sua mitologia estão presentes na Batalha de Moytura ou Cath Magh Turedh. No Livro de Leinster, os contos são categorizados da seguinte forma: Significado dos lugares (Dindsenchas), Destruição, Roubo de gado, Cortejo, Lamento, entre outros.

Existem outros mitos que não se encaixam nos ciclos mencionados, abordando aventuras e viagens ao Outro Mundo. Essas histórias, associadas ao Oeste e à água, são conhecidas como Immram ou Immrama (plural), termo que se traduz como “navegações” pelo mar. Além disso, temos as jornadas místicas, denominadas Echtrae ou Echtrai, que representam expedições do herói por terra em direção a Tir na nÓg. Ambas as narrativas estão impregnadas de influências cristãs.

Os Celtas na Atualidade

Apesar do declínio das línguas celtas, parece que, a longo prazo, a sobrevivência dos celtas é certa entre aqueles que buscam o regaste histórico desta cultura. A sua definição é uma questão que também levanta a abordagem de como a linguagem realmente é importante para a identidade moderna celta. Mas devemos ter em mente que os habitantes, por exemplo, da Escócia, País de Gales, Ilha de Man, Cornualha, Bretanha e Irlanda, não se definem como celtas, embora o atual movimento pancelta insista neste conceito.
Cruz Irlandesa

O número exato de alto-falantes celtas é incerto e as verdadeiras razões deste o declínio são complexas. Poderíamos descrever inúmeros motivos deste a relutância da igreja católica até problemas econômicos e sociais. Independente de tais fatores, a identidade celta está se desenvolvendo de forma independente e suas raízes linguísticas estão se espalhando e ganhando novos simpatizantes pelo mundo afora.

No passado, o Renascimento Celta que começou no século XVIII, foi visto de maneira idealista e platônica ao se tentar resgatar os costumes celtas, através dos movimentos literários da época. Precisamos ter o cuidado de não incorrermos no mesmo erro tanto nas práticas druídicas modernas, como nas fontes para os estudos acadêmicos.

Portanto, outros meios para se entender os celtas atualmente seriam através de analogias e estudos comparativos com outras culturas indo-europeias semelhantes e que conviveram entre si em algum momento da história. Que assim seja!

Fontes para estudo e pesquisa:
Ireland in Pre-Celtic Times – R. A. S. Macalister
Oxford Bibliographies – Article: Celtic and Irish Revival
Os Celtas: Da idade do bronze aos nossos dias – John Haywood

Rowena A. Senėwėen ®
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(Texto atualizado em 14/04/2021)

"Três velas que iluminam a escuridão: Verdade,
Natureza e Conhecimento." Tríade irlandesa.

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