Arquetipicamente, o animal de poder ou totêmico, pode permanecer consigo por toda a sua vida ou ao menos por um longo período, podendo contar com diferentes símbolos deste poder anímico em tempos distintos. Eles são semelhantes ao totem, mas tendem a ser convidados em algumas situações especiais, como durante uma crise ou se um determinado desafio requeira a utilização de quantidades maiores de energia, destreza ou sabedoria. Podemos receber um animal de poder especificamente por suas habilidades inatas.
No animismo, o conceito do animal auxiliar é repetidamente mencionado. Em todo caso, o xamã possui um auxiliar interno não-físico na forma de um animal, que lhe traz força, intuição e compreensão dos eventos de um ponto de vista diferente, ao aguçar os seus sentidos.
Houve um tempo em que a humanidade e o restante do reino animal possuíam um relacionamento mais próximo do que o atual, possibilitando uma melhor comunicação entre espécies (do mesmo modo que, não por acaso, ocorria entre os humanos e as criaturas do Outro Mundo); porém, as diferenças entre as espécies gradualmente aumentaram e o abismo entre elas se tornou mais profundo. Ao trabalhar com as criaturas do mundo interior na forma de animais da terra, aves ou peixes, os xamãs preservaram abertas essas vias de comunicação. Eles aprenderam a adotar as habilidades e, por vezes, a forma dessas criaturas, desfrutando de sua força, rapidez, visão aguçada e astúcia como auxiliares de suas próprias virtudes.
Em todo caso, o espírito da criatura que é contatado; provavelmente, o espírito que representa todos os indivíduos da espécie em questão. Conforme as constantes referências aos auxiliares espirituais dos xamãs, eles nem sempre precisam assumir a forma de animais, mas podem ter a aparência de ancestrais remotos ou mesmo seres míticos e heroicos. Com efeito, o xamã cria uma conexão com o ser espiritual.
Companheiros de Poder
Muitos heróis celtas possuíam habilidades animistas derivadas de seus totens pessoais: visão aguçada, premonição, força descomunal, entre outros, as quais eram vistas como oriundas de seus totens ou auxiliares animais, geralmente nascidos ao mesmo tempo no mundo físico. O herói Cu Chulainn, por exemplo, possuía um relacionamento extraordinário com um cavalo e ambos nasceram no mesmo momento.
Existem muitos outros exemplos de auxiliares animais na mitologia celta, especialmente os associados ao bardo-xamã Taliesin. Durante sua iniciação, ele assume a forma de diversas criaturas, das quais ele aprendeu algo importante. Na lenda de Culhwch e Olwen, da tradição galesa, o herói, envolvido numa busca, recebe ajuda de diversas criaturas mágicas, cada uma mais velha do que a anterior; juntas, elas o ajudam a libertar a criança divina, Mabon.
Há uma infinidade de valores a serem obtidos através de lendas desse tipo. Na primeira, vemos que o xamã possui uma relação simbiótica com animais da terra, aves e peixes, cada um responsável por lhe apresentar a outro elemento. Na segunda, vemos o herói sendo ajudado por animais do Outro Mundo – novamente aves, animais da terra e peixes – para libertar o que entendemos ser, em um nível, a criança aprisionada. Sem dúvida, o segundo cenário foi utilizado, com sucessos inegáveis, em modernas práticas terapêuticas, esse é um exemplo da utilização especificamente psicológica de forma lúdica, que mostra a associação do animal de poder na busca pela harmonização individual.
É importante frisar que eles não são apenas visualizações em seu próprio universo, eles possuem todas as qualidades de animais reais. Os animais de poder têm todas as características de seus semelhantes no mundo externo e seguem os padrões comportamentais de sua espécie. A única diferença é que eles são capazes de se comunicar com seus companheiros humanos num nível muito mais profundo e com mais sucesso do que seria esperado. É esse relacionamento que permite o xamã aprender profundamente com seus animais totêmicos.
A habilidade do xamã de assumir a forma de um animal, bem como estabelecer contato com objetos aparentemente inanimados, como espadas, cordas, pedras, penas, entre outros. Os sentidos mais apurados das criaturas selvagens podem ter grande importância e valor àqueles que seguem o caminho animista, de modo que os xamãs frequentemente adotam a forma ou usam os dons de seu animal de poder para aumentar e fortalecer suas práticas.
As energias de todas as criaturas já estão presentes em todos nós; só precisamos canalizá-las, trabalhando com os animais de poder que representam a velocidade, graça, beleza e delicadeza em cada um.
Animais Totêmicos
Entre os povos que possuem uma tradição xamânista mais ou menos contínua, ainda se acredita que, do mesmo modo que um indivíduo nasce com certas habilidades inatas – o dom do canto, um talento para a escultura ou a pintura, facilidade com idiomas, ele possui um espírito que o acompanha desde o nascimento. Esse ser é geralmente chamado de animal totêmico e age como um guardião e protetor, tanto nos reinos interiores quanto no mundo físico. Ele pode adotar a forma de um companheiro invisível ou de um animal.
Estamos suficientemente familiarizados com o conceito do “amigo invisível”, que a maioria das crianças pequenas possuem; o ser espiritual é bem semelhante a ele. Do mesmo modo que a maioria das crianças perde totalmente o contato com seu companheiro invisível quando cresce, nós também esquecemos (se é que algum dia já conhecemos) o nosso Totem. Até mesmo a pessoa mais desconectada preserva ao menos alguma memória latente de tal animal totêmico em sua consciência e esta pode ser ativada sem muito esforço.
A jornada a seguir visa auxiliá-lo a descobrir seu animal totem. Com a devida permissão de Caitlín Matthews, que a elaborou. Vem sendo usada com frequência, tanto por indivíduos quanto por grupos maiores, sempre com sucesso e com um grau de poder que continua a nos surpreender.
O plano é descobrir a identidade de seu animal totem, que tanto pode representar você individualmente quanto o grupo ao qual pertença (como o Clã do Urso, do Cão ou do Gamo). É provável que você já possua esse guia; ele é uma representação de sua identidade “xamânica” e das qualidades que você intermedia com o resto do mundo. Ele pode ser mantido em segredo, como parte de seu nome interior ou apresentado abertamente, num escudo. Mas lembre-se não é você que escolhe seu totem, o mais correto é dizer que é ele quem o escolhe.
Para o exercício abaixo, você precisará alterar sua consciência. Existem muitos modos diferentes para conseguir esse objetivo, um dos quais é a utilização do tambor ou músicas gravadas com suas batidas.
Meditação Totêmica
Peça a alguém que toque o tambor para você ou ouça um áudio com sons de tambor. Enquanto ouve o som, imagine-se descendo pelo tronco de uma grande árvore, que cresce não só para cima, como abaixo da superfície da terra. Desta vez, você descerá para o interior da terra. A árvore parece não ter fim, mas você acabará chegando ao fundo e lá você verá uma clareira numa floresta. Ao pé da árvore você vê um ser com galhadas sentado. Ele é forte, escuro e poderoso, mas não é hostil. É chamado de pastor selvagem, é ele quem protege todos os animais.
Quando ele o vê, ele bate seu enorme cajado no tronco da árvore, fazendo com que um animal surja da árvore em sua direção. Este pode ser a sua criatura. Pode ser qualquer uma, de um rato a uma águia dourada. Saúde-o amigavelmente, dando-lhe as boas-vindas, convide-o a entrar em você. O animal se fundirá ao seu corpo; ao terminar, você poderá voltar pelo mesmo tronco da árvore. A duração desse evento varia de pessoa para pessoa. Pode durar de 10 a 30 minutos e você deve cuidar para que a música continue a tocar ou indicar a quem estiver tocando que você fará um sinal quando estiver pronto para retornar à consciência normal. Permita ao seu totem que se expresse com o vigor que ele desejar.
Você logo aprenderá bastante sobre seu companheiro interior. Siga sua trilha, valorize sua inteligência e você se surpreenderá com o quanto ele tem a lhe ensinar. Geralmente, as respostas às perguntas vêm na forma de charadas, ao invés de respostas diretas. Elas normalmente revelam seu significado através de uma breve meditação ou mesmo pela intuição. É um dos modos pelos quais o animal totem pode lhe ajudar em todo tipo de situação: você também pode recorrer ao seu animal em busca de autocura, bem como um guia geral pelas águas mais agitadas da experiência da vida.
Nem todos os animais totem aparentam ser amigáveis ou atraentes, e você deverá, a seu modo, aceitar sua Natureza. Há muito a ser ganho quando aprendemos mais sobre nós mesmos e nossas habilidades, medos e dúvidas interiores. Se tiver dúvidas sobre a confiabilidade de seu animal totem ou auxiliar, peça-lhe para que mostre uma visão de algo que lhe é especial ou precioso.
Compare a visão com sua própria compreensão do tema e veja o que ela lhe diz. Lembre-se: se continuar a sentir-se desconfortável com seu animal, você poderá embarcar novamente em uma jornada, para ver se surge outro ser mais apropriado. Nos elementos da natureza encontramos um universo de percepções, que podem transformar o modo como você vê tanto o mundo natural quanto as circunstâncias da sua própria vida.
Fonte bibliográfica:
“Xamanismo Celta” de John Matthews
Rowena A. Senėwėen ®
Revisão e atualização em 24/09/2020.
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