Tribann: Os Três Raios

Nó Celta

Sobre o mito da Awen: em seu significado mais básico, representa o espírito, a inspiração e a iluminação.

Einigen, o gigante, o primeiro de todos os seres, viu três raios de luz que desciam do céu. Esses três raios eram também uma palavra de três sílabas, o verdadeiro nome do deus Celi, espírito oculto da vida que cria todas as coisas. Neles estava todo o conhecimento que já existiu, existe ou existirá. Contemplando esses raios, Einigen pegou três bastões de sorveira brava e neles talhou todo o conhecimento em letras de linhas retas e inclinadas. Porém, quando outros viram os bastões, compreenderam mal e adoraram os bastões como deuses em lugar de aprender o conhecimento neles escrito. Tão grandes foram a tristeza e a ira de Einigen por essa razão que ele se rompeu e morreu.

Quando tinham se passado um ano e um dia após a morte de Einigen, Menw, filho de Teirwaedd, deparou-se com o crânio de Einigen e viu que os três bastões de sorveira brava tinham se enraizado dentro dele e estavam crescendo por sua boca. Dele as tradições dos bastões passaram aos Gwydoniaidd – os antigos sábios dos celtas – e, por fim, deles para os druidas. Assim, o conhecimento que um dia tinha brilhado em três grandes raios de luz forma agora a sabedoria da tradição druídica.

O conto do gigante Einigen e dos três raios de luz é o mito de origem da Renovação Druídica. Os próprios raios formam o símbolo central do Druidismo e surgem constantemente onde quer que os ensinamentos da Renovação Druídica tenham deixado traços. Eles representam Awen, o coração do caminho druídico.

Que é Awen? Awen é a luz interna que dá à mente a habilidade para alcançar além de si mesma. É a Awen que transforma escritores de versos em poetas e mostra lampejos do futuro a profetas e videntes.

Os druidas da Renovação estudaram as tradições da Awen e ligaram-na ao conhecimento e à experiência de muitas fontes. Eles sabiam que pessoas de todas as religiões experimentaram momentos de iluminação em que o mundo assumiu um significado profundo. Algumas dessas experiências, eles sabiam, ocorreram quando as pessoas voltaram sua atenção para fora, em direção à natureza ou aos grandes poderes espirituais da natureza que o ser humano chama deuses. Eles sabiam que outras experiências do mesmo tipo tiveram lugar quando as pessoas voltaram sua atenção para dentro, para o centro de si mesmas.

Esses dois modos de experiência são simbolizados por duas formas de desenhar os três raios de Luz. A primeira, a forma invocadora \|/, representa a experiência de Einigen – a descida da Awen de uma fonte divina exterior ao indivíduo. A segunda, a forma evocadora mais comumente usada /|\, representa a experiência de Menw – o despertar da Awen dentro da alma individual por meio do estudo e da contemplação. As duas formas juntas compõem o emblema chamado Tribann.

O conto dos três raios de luz é um mito, não história. Contudo, a palavra “mito” precisa ser compreendida com cuidado. Hoje, muitas pessoas usam essa palavra significando uma narrativa que não é verdadeira. Mitos reais, entretanto, não são simples mentiras, ainda que não tenham nada a ver com fato histórico. Como disse o filósofo grego Sallustius*: “Os mitos são coisas que nunca aconteceram, mas sempre são.”

Absolutamente não importa se uma pessoa chamada Menw ap Teirwaedd existiu, se encontrou o crânio de um gigante com três ramos de sorveira crescendo de dentro dele ou se isso aconteceu exatamente 366 dias após a morte do gigante. O sentido jornalístico de fato literal que os fundamentalistas trazem aos textos sagrados não tem lugar na compreensão druídica do mito. O âmago de qualquer mito não é se ele aconteceu – ou, por falar nisso, quem o escreveu – mas o que ele significa e o que tem a ensinar.

O próprio discernimento está, na verdade, entre as coisas que o conto de Einigen ensina. Einigen reconheceu os raios de luz e Menw reconheceu os ramos como portadores de conhecimento. Os outros que viram os bastões falharam nessa compreensão e adoraram os bastões em lugar de aprender sua mensagem. Existe aqui uma forte lição sobre a diferença entre uma religião da crença e uma espiritualidade baseada na compreensão. Os adoradores dos bastões trataram-nos como objetos de fé e deixaram escapar cada ensinamento que esses objetos pretendiam transmitir. Do mesmo modo, alguém pode acreditar no relato de Einigen e Menw e nunca entender que essa lenda tem algo a ensinar.

Entretanto, essa não é a única lição do mito. Os três raios são também três gritos e as três partes do nome do deus Celi, a fonte oculta de todas as coisas. Esse nome é a própria palavra Awen, dividida em três sílabas: a-u-en. Pare um momento e pense no que isso significa. Awen, a iluminação interior que concede dons de poesia e profecia, é o verdadeiro nome da fonte de todas as coisas. Tocar a Awen é tocar a energia divina que cria o universo. Escrever um poema que capture um raio de inspiração é representar o feito de Einigen, cujos bastões de sorveira capturaram a sabedoria manifestada nos três raios de luz. Ler um poema e captar um vislumbre da inspiração original é representar o feito de Menw. O conto dos três raios de luz é então recontado em cada obra de criatividade.

Na tradição druídica, os três raios são também os três primeiros raios do sol nascente no solstício de verão, no solstício de inverno e nos equinócios, brilhando sobre uma pedra ereta e lançando sua sombra pelo chão. Os raios do Sol traçam a forma invocadora, enquanto as sombras traçam a forma evocadora.

Um mito antigo, encontrado em muitas lendas descreve a criação do cosmos pelo corpo de um gigante primordial. Nessas lendas, o crânio do gigante torna-se a abóbada celeste. O mito galês de Einigen, ecoando esses relatos antigos, mostra bastões de sorveira brava que se erguem do crânio do gigante morto em lugar das auroras que definem o ano. Desse modo, outro significado do ano é reencenado a cada ano quando o Sol se ergue nas três posições fundamentais no horizonte oriental: sudeste no solstício de inverno, nordeste no solstício de verão, exatamente no leste nos equinócios da primavera e do outono.

Cada raio possui seu próprio simbolismo e significado. O primeiro raio, ou raio do solstício de inverno, estende-se do sudeste \|/ ou em direção ao nordeste /|\. Seu nome é Gwron (gú-ron) e representa o Sol em seu mais baixo ponto no solstício de inverno, entre a escuridão e o frio hibernais. Gwron é o conhecimento da Awen.

O segundo raio, ou raio do solstício de verão, estende-se do nordeste \|/ ou em direção ao sudeste /|\. Chama-se Plenydd (plé-nith) e representa o Sol do solstício de verão, no ápice de seu poder. Plenydd é o poder da Awen.

O terceiro raio, ou raio equinocial, estende-se do leste \|/ ou em direção ao oeste /|\. Seu nome é Alawn (á-lon) e representa o Sol no ponto de equilíbrio, a meio caminho entre seu percurso ascendente e descendente nos ciclos do ano. Alawn é a paz da Awen.

Gwron, Plenydd e Alawn são também os nomes de três misteriosas figuras da lenda, os três primeiros bardos da Grã-Bretanha. Uma narrativa do Bardas afirma que foram eles os primeiros a instituir os graus de Bardo, Vate e Druida entre os Gwydoniaidd, os mestres da tradição entre os celtas, nos dias antes que suas perambulações os trouxessem à Grã-Bretanha. Os Bardos, que preservam o conhecimento do passado, correspondem ao raio do solstício de inverno. Os Vates, que encontram o poder vivo dos reinos espirituais, correspondem ao raio do solstício de verão. Os Druidas, que unem conhecimento e poder e tradicionalmente podiam separar exércitos à beira do combate para trazer a paz, correspondem ao raio central dos equinócios.

Fonte: Greer, John Michael. The Druidry Handbook;
Spiritual practice rooted in the living earth. Red Wheel/Weiser, LLC,
York Beach ME, 2006, p. 49-54. ISBN 1-57863-354-0.

Tradução Bellouesus Isarnos
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Bellodunon:
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