Sobre os Mitos Celtas

Nó Celta

As fontes clássicas greco-romanas, mesmo que na percepção dos vencedores, são as grandes responsáveis por transmitirem a história dos celtas e, apesar da cristianização, as fontes insulares medievais irlandesas e galesas apresentam um vasto campo para o estudo céltico.

Os mitos celtas foram preservados através das tradições orais e através dos registros escritos de monges cristãos, poetas e escribas medievais, que se ocupavam em traduzir as lendas e os contos, que os antigos bardos e seus descendentes contavam entre si.

O universo irlandês foi o que melhor conservou as tradições celtas, pois a Irlanda, possivelmente, nunca fora invadida por Roma, portanto, seus mitos se tornaram mais precisos, mesmo que de forma oral. A escrita entre os celtas, propriamente dita, surgiu por volta do século V d.C., com a chegada do cristianismo através do monge São Patrício.

Os mitos irlandeses

Os mitos irlandeses sofreram modificações conforme o contexto cristão, como é o caso dos contos irlandeses de “Lebor Gabála Érenn – O Livro das Invasões”, uma coleção de manuscritos redigidos em forma de poema e prosa, que narram às origens míticas da Irlanda e suas sucessivas invasões, compilado por um estudioso anônimo no século XI d.C.

O mais antigo manuscrito irlandês é o compêndio conhecido como, “O Livro da vaca marrom – Leabhar na hUidre”, que contém parte da “Invasão do gado de Cooley – Cúailnge Tain Bó”, no Ciclo de Ulster e que nos conta a saga do grande herói celta CuChulainn e suas façanhas.

A maioria dos registros históricos sobre os mitos celtas na mitologia irlandesa, está guardada e preservada em universidades e bibliotecas nacionais da Irlanda. Os manuscritos mais famosos são:

– Lebor Gabála Érenn (O Livro das Conquistas).

– Lebar na Núachongbála (O Livro de Leinster).

– Leabhar Baile an Mhota (O Livro de Ballymote).

– Leabhar Mór Mhic Fhir Bhisigh (O Grande Livro de Lecan).

– Leabhar Buidhe Lecain (O Livro Amarelo de Lecan).

– Leabhar Feirmoithe (O Livro dos Fermoy).

Existem algumas versões diferentes dos mesmos contos em cada um desses manuscritos. O mais famoso deles “Lebor Gabála Érenn – O Livro das Conquistas” possui interpretações mais detalhadas sobre vários contos, que também estão descritas no “Livro de Leinster”, no “Livro de Ballymote”, no “Livro Amarelo de Lecan” e no “Livro dos Fermoy”.

Diante das várias formas de descrever os mitos irlandeses, citaremos uma visão geral sobre os contos celtas mais conhecidos, os quais foram divididos em quatro grandes ciclos principais:

1°- O Ciclo Mitológico Irlandês: o ciclo sobre a história mítica da Irlanda e suas origens, com uma série de invasões, das Tuatha Dé Danann até a chegada dos Milesianos, os filhos de Mil.

2°- O Ciclo de Ulster: ciclo sobre o reinado de Conchobar Mac Ness, Rei de Ulster, no início da era cristã, os feitos do herói CuChulainn e os guerreiros Ulaid, chamado antigamente de “Ciclo do Ramo Vermelho”.

3°- O Ciclo Feniano: contos e baladas, por volta do século III, sobre a trajetória de Finn Mac Cumhail e o Salmão da Sabedoria, além do seu exército de guerreiros, os Fianna.

4°- O Ciclo Histórico ou dos Reis: ciclo das histórias e feitos dos reis Milesianos, que inclui alguns períodos históricos do Ciclo do Ulster, contada pelos antigos bardos.

Há ainda outras histórias que não se enquadram em nenhum desses ciclos e que falam sobre aventuras e viagens ao Outro Mundo, associados ao oeste e à água, conhecidas como Immram ou Immrama (no plural), que significa “Navegações”, em que se descrevem as jornadas místicas de Maelduin pelo mar rumo a Tir na nÓg, repleta de influência cristã.

Os mitos galeses

Os mitos celtas também são retratados através da mitologia galesa, seguindo a tradição oral e conservados nos onze contos do Mabionogion, agrupados em ciclos, numa coletânea de manuscritos em prosa escritos em galês medieval, além da história de Taliesin – perfazendo um total de doze contos. Mabinogi vem da palavra “mab” e significa “filho”, foi o termo usado à coletânea pela tradutora inglesa Lady Charlotte Guest, em 1849. São eles:

Quarto Ramo do Mabinogi: ciclo mitológico das famílias de Deuses.

– Pwyll, Príncipe de Dyfed
– Branwen, a Filha de Llyr
– Manawyddan, o Filho de Llyr
– Math, o Filho de Mathonwy

Contos Nativos: lendas célticas compiladas por Lady Charlotte Guest.

– Culhwch e Olwen
– O sonho de Rhonabwy
– O sonho de Macsen Wledig
– Lludd e Llefelys

Romances Arthurianos: versões galesas dos contos arthurianos.

– Owain e a Dama da Fonte
– Peredur, filho de Efrawg
– Geraint, filho de Erbin

Ao estudarmos todo esse material, devemos considerar que as traduções para outras línguas podem conter erros de interpretação, tanto do irlandês como do galês. E como se trata de um estudo complexo e comparativo, devemos saber que a pesquisa sobre a história dos celtas ao longo dos anos, sofreu modificações e adaptações romanceadas com o surgimento do Renascimento Celta. Além disso, há uma nova tradução do Mabionogi feita pelo medievalista Will Parker. Enfim, conheçamos os grandes ciclos e seus contos extraordinários. Cymru am byth… País de Gales para sempre!

Data original da publicação: 16/09/2009 – atualizado em 29/09/2020.

Fontes da pesquisa:
BELLINGHAM, David – Introdução à Mitologia Céltica – Lisboa: Ed. Estampa, 1999.
GUEST, Lady Charlotte – The Mabinogion – Ed. Kinkley, 1887.
MACCULLOCH, J.A. – A Religião dos Antigos Celtas – Edinburgh: T. & T. CLARK, 1911.
MONAGHAN, Patricia – The Encyclopedia of Celtic Mythology and Folklore – Facts On File: New York, 2004.
SQUIRE, Charles – Mitos e Lendas Celtas – Ed. Nova Era, 2003.

Rowena A. Senėwėen ®
Pesquisadora da Cultura Celta e do Druidismo.

Website:
www.templodeavalon.com
Brumas do Tempo:
www.brumasdotempo.blogspot.com
Três Reinos Celtas:
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