Um antigo poema atribuído ao próprio druida Amergin foi localizado em um manuscrito jurídico do séc. XVI que hoje se encontra no Trinity College of Dublin, catalogado como H 3.18. Esse poema recebeu dos estudiosos modernos o nome de “O Caldeirão da Poesia”.
Citado no “Glossário de O’Davoren” (1569), o nome desse texto aparece sob diferentes formas: In Coire, Coire Goiriath, In Coire Éarmai, sempre fazendo menção à palavra coire (“caldeirão”). De acordo com o poema, três caldeirões existem dentro de cada indivíduo.
O Primeiro chama-se Coire Goiriath (“Caldeirão do Aquecimento/Sustento/Incubação”). O Segundo é Coire Érmai (“Caldeirão do Movimento”). O Terceiro é Coire Sois (“Caldeirão da Sabedoria”). Assim, os três caldeirões são: Aquecimento, Movimento e Sabedoria. Fisicamente, o Caldeirão do Aquecimento localiza-se no ventre, no foco da corrente telúrica; o Caldeirão do Movimento localiza-se no plexo solar, no foco da corrente solar; o Caldeirão da Sabedoria localiza-se no centro da cabeça, no foco da corrente lunar.
Desde o nascimento do indivíduo, o Caldeirão do Aquecimento encontra-se virado para cima. O líquido que nele borbulha é a força vital responsável pela saúde física. O líquido que ferve no Caldeirão do Aquecimento é Dán. O Dán é um dos conceitos mais complexos na tradição irlandesa. A palavra pode ser traduzida como “poesia, dom, talento, vocação, fado, destino”, conforme o contexto. Dán engloba todos esses significados como um conceito unitário. Dán ferve naturalmente e sobe, tornando-se Brí.
Desde o nascimento do indivíduo, o Caldeirão do Movimento encontra-se virado de lado. O líquido que nele borbulha contém o caminho de nossas ações e realizações, as emoções e talentos. O líquido que ferve no Caldeirão do Movimento é Brí. O Brí (“essência, vigor”) é um poder pessoal inerente que não pode ser obtido de outra forma, mas apenas desenvolvido. Ao ferver, Brí pode subir e converter-se em Bua.
O texto irlandês explica que o Caldeirão do Movimento encontra-se naturalmente invertido em todas as pessoas sem arte, mas começa a virar para a posição correta naquelas que seguem o ofício bárdico ou possuem pequeno talento poético, o que se deve entender como referência às múltiplas especializações dos Áes Dána e não à poesia em sentido concreto. Somente nos ard ollúna, “que são grandes correntezas de sabedoria” (anruthanna), o Caldeirão do Movimento estaria em posição totalmente correta. Nem todo pessoa da arte o possui na posição correta, “pois o caldeirão do movimento deve ser virado pela tristeza ou pela alegria”. Embora a causa da tristeza ou da alegria seja externa, é a sua apropriação (ou internalização) pelo indivíduo que causa o movimento do caldeirão.
Quatro são as tristezas: ânsia e pesar, as tristezas do ciúme e a disciplina da peregrinação aos lugares sagrados. A alegria pode ser de duas modalidades: a alegria divina e a alegria humana. A alegria humana abrange: intimidade sexual, a alegria da saúde e da prosperidade depois dos anos difíceis do estudo da poesia, a alegria da sabedoria após a criação harmoniosa de poemas e a alegria do êxtase pelo consumo das claras nozes das nove aveleiras da Fonte de Segais no reino dos Sidhe. A Fonte de Segais é a Fonte do Conhecimento, de onde fluem as cinco correntezas que representam os cinco sentidos pelos quais percebemos o mundo. Não é possível alcançar sabedoria sem beber dessas cinco correntezas. A Fonte de Segais é igual à Fonte de Conlla, exceto que esta possui duas outras correntezas, fala e pensamento.
A alegria divina é assim explicada no texto: “graça compreensível / conhecimento reunido / inspiração poética fluente como o leite do peito”, ou seja, é a compreensão integrada em que as águas da Fonte do Conhecimento formam e trama e a urdidura do que o sábio percebe como um só tecido, pois o Caldeirão do Movimento é “o auge da maré do conhecimento / união de sábios”.
Desde o nascimento do indivíduo, o Caldeirão da Sabedoria encontra-se virado para baixo. Ele contém nossas habilidades inatas e potenciais naturais que podem ser desenvolvidos a um grau máximo. A ideia de total autorrealização reside no Caldeirão da Sabedoria. O líquido que borbulha no Caldeirão da Sabedoria é Bua. A Bua (“vitória, mérito”) é o poder pessoal obtido pelo indivíduo, sobretudo o que se manifesta em uma área específica. As ações que permitem obter ou que mantêm Bua e recebem a designação de Buatha (o plural de Bua). O Caldeirão da Sabedoria “concede a natureza de cada arte/ […] engrandece cada artesão / […] edifica uma pessoa por meio de seu dom”, ou seja, desvela a essência do conhecimento, permitindo que o indivíduo a invoque numa “[…] aterradora correnteza de palavras / […] temível poesia / […] vastos, potentes goles de mortais encantamentos”. O Caldeirão da Sabedoria jorra imbas, a emanação impermanente e em mutação constante de Amrán Mór que concilia e transcende o Aquecimento e o Movimento.
Bellouesus Isarnos
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"Três velas que iluminam a escuridão: Verdade,
Natureza e Conhecimento." Tríade irlandesa.