Ogham ou Ogam foi um sistema de escrita irlandês utilizado por antigos sacerdotes, encontrado na Irlanda, Escócia, País de Gales e Cornualha (Inglaterra). Posteriormente, estudos medievais associaram símbolos e letras a uma árvore ou arbusto, sendo conhecido como Crann Ogham ou Ogham das Árvores.
“Árvores-espíritos são guias totêmicas que expressam qualidades e identidades a serem desenvolvidas por nós.” – Por Marcelo Cuchulainn.
No Trato do Ogham (pronúncia “Ouam”), desde o aspecto histórico até o divinatório, atribuem a autoria mítica a Ogma, o Deus da Eloquência. O Lebor Gabála Érenn (Livro das Conquistas) descreve Ogma não apenas como um guerreiro renomado, mas também como um campeão das Tuatha Dé Danann, possivelmente designado como um psicopompo. Além disso, outras versões dos mitos irlandeses o mencionam como irmão de Dagda e Nuada. O gaulês Ogmios é correlato de Ogma, apesar das semelhanças e correspondência linguística, apresenta características distintas. Seus epítetos incluem “Face Sol” e “Homem Forte”.
As quatro principais fontes de estudo do Ogham estão nos manuscritos medievais irlandeses: The Scholar’s Primer, conhecido como Auraicept na n-Éces (se pronuncia: aurikepet na niches), o Lebor Ogaim, o Bríatharogam e o Book of Ballymote. Isso inclui o estudo da botânica das árvores e arbustos, bem como dos mitos, do folclore e da gnose pessoal (intuição ou experiência meditativa) com o espírito de cada um desses seres.
Letras Oghâmicas
A letra oghâmica no irlandês antigo, conhecida como “Fid” no singular e “Feda” no plural, assume várias formas; por exemplo, “Fiodh” e “Feadha” no irlandês moderno, sendo traduzidas como “madeira” e “bosque”. Portanto, ao se esculpir na pedra “droim”, os antigos entalhavam-nas em pedras eretas, e a borda servia como linha central. Inicialmente, essas letras compreendiam apenas as quatro séries, as quais eram divididas em grupos ou famílias. Dessa maneira, seguia uma sequência de cinco letras, completando assim um conjunto denominado “Aicme”.
Chamamos a quinta família de “Forfeda”, que consiste em ditongos adicionados tardiamente e que não existiam na língua irlandesa, utilizadas de forma oracular na Janela de Fionn (Fege Find) junto com as Feda , similar ao estudo das Chaves do Ogham. Porém, esta abordagem é uma reconstrução contemporânea baseada nos estudos de Searles O’Dubhain, pois não há registros de interpretações originais. Por exemplo, incorporaram o primeiro Aicme e suas letras: B, L, F/V, S, N, à lista do Énogam (Ogham dos Pássaros) que representava: Besan (faisão), Lachu (pato), Laelinn (gaivota), Seg (falcão) e Naesc (narceja) – os traços dessas letras imitavam os pés das aves. Igualmente, uniram o Ogham a diversos símbolos e até cores; podemos encontrar essas variações desses alfabetos no Livro de Ballymote.
Ogham e Arqueologia
É importante destacar que o Ogham não constituía um sistema único, e as pedras sobreviventes demonstram essas modificações, incluindo a adição de novos símbolos durante o Império Romano. Segundo a lei irlandesa primitiva, as inscrições em Ogham presentes nas pedras de Dunloe, localizadas no Condado de Kerry, poderiam ter servido para estabelecer reivindicações legais de terras. Decerto, essa prática encontra respaldo em registros que narram a história de heróis mortos há muito tempo, caídos em batalha e enterrados sob pedras com seu nome e de sua família entalhados.
Por certo, o arqueólogo R. A. S. Macalister argumentou que essa pedra específica foi erguida na pré-história e que provavelmente realizaram a inscrição em Ogham no século V, tornando-se assim um dos registros mais antigos da língua gaélica.
A saber: “No tempo de Bres, filho de Elatha rei da Irlanda, o Ogham foi criado por Ogma, um homem bem qualificado no discurso e na poesia. Foi à partir das árvores da floresta, que os nomes foram dados às letras oghâmicas. As primeiras inscrições datam do século IV d.C. em torno do mar da Irlanda e a partir do século V e VI as pedras começaram a ser utilizadas com mais frequência, podendo ter uma origem mais antiga. Acredita-se que essas inscrições foram gravadas em madeira ou metal; materiais perecíveis não sobreviveram até os tempos modernos.” – Trato do Ogham (Lebor Ogaim).
Reverência às Árvores
Através dos relatos clássicos, da literatura galesa e do folclore irlandês, sabemos que os druidas reverenciavam às árvores, e os celtas, de maneira geral, as consideravam de imensa importância, visto a veneração dos druidas gauleses pelo Visco e o Carvalho, e dos insulares pela Aveleira, o Teixo, O Espinheiro-Branco, o Sabugueiro e a Sorveira.
Por analogia, dizemos que a linha central simboliza o tronco de uma árvore, conhecido como “flesc”, enquanto os traços ou riscos representam os galhos. Sendo assim, a escrita na horizontal é da esquerda para a direita e na vertical de baixo para cima (como se escalasse uma árvore). Iniciamos pelo símbolo “eite” (pena) e terminamos com “eite thuathail” (pena invertida). Geralmente, separamos as letras por “spás” (espaço), e ainda é possível substituir a letra V por B/BH/F.
Entretanto, ressaltamos que o Ogham não é “celta”; trata-se de um alfabeto irlandês primitivo. Certamente é muito mais que um simples oráculo. Ogham é sobre árvores, paisagens, flores silvestres, ervas, plantas, pássaros, animais e poesia. Representa a sabedoria ancestral do Outro Mundo, que nos inspira constantemente na criação de vocalizações, piseógs (feitiços irlandeses) e sigilos druídicos.
Estudo Moderno Oracular
Por isso, nos estudos do Ogham no Caer Siddi e no Fidneméd an Síd, encontraremos antigos instrutores Sagragnos (Chefe) e Coslogenos (filho da Aveleira), inspirados nas gravações em pedra: SAGRAGNI MAQI CUNATAMI (Sagragnus, filho de Cunatamus), com traduções e comentários do mentor Bellouesus Isarnos.
O Ogham Bríatharogaim são palavras-chaves, como uma alcunha ou metáforas das árvores e arbustos do alfabeto oghâmico. O Bríatharogam Maic ind Óc enfoca o aspecto espiritual; o Bríatharogam Con Culainn aborda o aspecto emocional/mental; já que o Bríatharogam Morainn mac Moín trata do aspecto material da vida. Praticantes aplicam essa técnica tanto na meditação do Caldeirão da Poesia, quanto nas visualizações do Bosque Sagrado, e verbalizam cada Fid com o propósito de “despertar” a essência das árvores do Ogham.
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Referências em Inglês
– As pedra da Irlanda: Ogham in 3D Project
– Caminhos de Sabedoria: Fionn’s Wheel – Summerlands
– Crann Ogham: Tree Huggers – Raven e Kathryn
– Dra. Catherine Swift: The Story of Ogham
– Enciclopédia Online: Omniglot: Ogham.
– Epígrafes funerárias: Ogham Stones
– Guia: Expanded Ogham Guide – Morgan Daimler
– Introdução ao Forfeda: Extra Letters – Living Library
– Livro: Ogam: Weaving Word Wisdom – Erynn Rowan Laurie
Referências em Português
– As letras adicionais – Forfeda: O Quinto Aicme
– Sobre sua origem mítica: Ogham – A Origem Mitológica
– Um comparativo mitológico: Ogham e a Cosmologia Celta
– Palavras-chaves: Símbolos das Fedha e Forfeda
CURSO DE OGHAM: Alfabeto e Oráculo Irlandês
Rowena A. Senėwėen ®
Pesquisadora da Cultura Celta e do Druidismo.
(Texto atualizado em 05/04/2023)
Website:
www.templodeavalon.com
Brumas do Tempo:
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Três Reinos Celtas:
www.tresreinosceltas.blogspot.com
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"Três velas que iluminam a escuridão: Verdade,
Natureza e Conhecimento." Tríade irlandesa.
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