Culhwch e Olwen

Nó Celta

Em “Culhwch e Olwen” o rei Arthur e seus cavaleiros aparecem num cenário totalmente céltico da Idade do Ferro, com referências à Mabon e aos ferreiros, descrevendo uma história envolvente, repleta de seres míticos e animais sagrados.

Logo após o nascimento de Culhwch (Keel-hookh), sua mãe adoeceu gravemente e, antes de morrer, fez o marido jurar que ele não se casaria novamente, até que em sua sepultura nascesse uma roseira com dois botões. Não tardou e a rainha faleceu.

Alguns anos mais tarde, a roseira floriu no sepulcro sagrado e, finalmente, o rei Celyddon casou-se com a viúva do rei Doged. Esta imediatamente fez com que seu enteado, Culhwch, prometesse que se casaria apenas com Olwen, da corte de Arthur.

– “Eu ainda não estou em idade de casar”, respondeu o jovem. Então ela disse-lhe: “Declaro a ti que é teu destino casar-se com Olwen, a filha de Yspaddaden Penkawr”.

O que fez o jovem corar de amor pela donzela, embora nunca a tivesse visto.

Passados alguns dias, seu pai, percebendo a agitação do filho, perguntou-lhe: – “O que veio abater sobre vós, meu filho, o que tens?”

– “Minha madrasta declarou que eu nunca terei uma esposa, a não ser que eu obtenha a mão de Olwen, filha de Yspaddaden Penkawr”. Disse o rapaz, cabisbaixo.

– “Isso vai ser fácil”, respondeu o pai. – “Arthur é seu primo. Vá até ele e peça a sua ajuda e sua bênção também.”

Culhwch, então, cavalgou até a corte de Arthur, montado em seu belo cavalo cinzento, que estava adornado com uma capa de cor púrpura, com uma maçã dourada bordada em cada lado do tecido. O freio, a sela, os estribos e as ferraduras do cavalo eram de ouro e ele parecia flutuar sobre o solo, ao galopar. Em cada uma das suas mãos, empunhava uma lança de prata, na cintura, uma espada de ouro e, caminhando ao seu lado, dois cães de caça.

Todos na corte ficaram impressionados quando o jovem adentrou o pátio a cavalo.

Arthur, então, deu as boas-vindas ao estranho e lhe ofereceu um lugar de destaque no banquete. Culhwch agradeceu e disse: – “Senhor, não venho por comida e nem por bebida, mas para solicitar sua ajuda!”

– “Tereis qualquer coisa da terra ou do mar, que esteja abaixo do céu.” Respondeu Arthur.

– “Exceto meus barcos, espada, lança, manto, escudo e minha amada Guinevere. Mas, antes se apresente, sei que vieste do meu sangue, portanto, diga-me quem és.”

– “Eu te direi”, disse o jovem. – “Sou Culhwch, filho de Celyddon e Goleuddydd, minha mãe, a filha do príncipe Anlawdd”.

– “Isso é verdade”, disse Arthur. – “Tu és o meu primo, seja qual for o seu pedido, a benção eu lhe concedo.”

– “Então, peço-lhe Olwen, a filha de Yspaddaden.”

– “Nunca ouvi falar dessa mulher, mas meus homens irão procurá-la por todo o reino durante um ano e aguardará aqui como meu hóspede.”

Um ano depois, os homens regressaram sem obter nenhuma notícia da tal moça. Culhwch, muito triste, disse: – “Deixarei esse lugar com uma parte da vossa honra.”

“Como se atreve insultar nosso rei?”, gritou Kay. “Venha conosco e poderá ver com seus próprios olhos que a mulher que procuras não se encontra em lugar algum.”

Kay é um dos grandes heróis da corte de Arhur. Diz a lenda que ele sustentou a respiração durante nove dias e nove noites, para se curar de um ferimento de espada. Além disso, podia crescer até a altura de uma árvore e acender uma fogueira apenas com o calor da palma da sua mão, se assim o quisesse.

Arthur selecionou Kay e mais alguns dos seus heróis para acompanhar Culhwch em sua busca impetuosa.

Escolheu também Bedwyr (Bedivere), que andava sempre junto a Kay e que nenhum outro homem do reino, exceto Arhtur, poderia superá-lo com a lança, pois tinha o mesmo poder de nove lanças, embora ele tivesse uma mão só, possuía a força equivalente a de três guerreiros.

Kynddelig seria o guia da expedição, pois ele conhecia todos os lugares sem mesmo nunca ter ido a qualquer um deles antes.

Arthur chamou Gwrhyr que sabia falar todas as línguas dos homens e dos animais; o seu sobrinho e herdeiro do trono, Gwyar (Gawain) que nunca regressava de uma missão sem cumpri-la.

E, finalmente, Menw, que podia lançar encantamentos para que o grupo ficasse invisível aos seus inimigos.

Os heróis cavalgaram pelas montanhas durante dias, até chegar a uma grande planície, onde avistaram um magnífico castelo e seguiram em sua direção. E quanto mais andavam, menos se aproximavam do tal castelo, que parecia envolto numa bruma misteriosa.

Em um monte próximo do castelo havia um pastor gigante, pastoreando suas ovelhas, que pareciam se estender até o horizonte. Falaram com o pastor, que os alertou que nenhum homem jamais saíra vivo daquele castelo.

Vieram, a saber, depois, que o pastor se chamava Custennin e era irmão de Yspaddaden Penkawr, pai de Olwen. Imediatamente, Culhwch ofereceu um anel de ouro a ele, como recompensa pela informação dada. Custennin, então, convidou-os a irem até a sua cabana e levou o anel para sua esposa.

Entraram na cabana do pastor e a mulher serviu-lhes o jantar. Depois, perguntaram sobre Olwen. – “Ela vem aqui todos os sábados para lavar os cabelos, mas prometa-me que não lhe farão mal algum, pois ela é a mais bela e adorável donzela do reino.” Disse a senhora.

-“Sim, nós prometemos”, disseram eles. E, assim, uma mensagem foi enviada até ela.

A moça, então, chegou ao vale com um lindo vestido de seda da cor do fogo, com uma gola de ouro avermelhado, adornado com rubis e esmeraldas. O seu cabelo era mais dourado que o amarelo do sol e sua pele mais branca que a espuma do mar. Os seus olhos brilhavam como os de um falcão e flores brancas surgiam por onde ela pisava, por isso, era chamada de Olwen, que significa “Rastro Branco”.

Culhwch declarou o seu amor pela moça e Olwen retribuiu-lhe o amor, mas antes de qualquer envolvimento, ele deveria executar algumas tarefas determinadas por seu pai, para merecer a sua mão. Olwen conduziu Culhwch e os seus companheiros até o castelo e apresentou-lhes o rei.

-“Saudações do céu e dos homens a ti, Yspaddaden Penkawr”, disseram eles. “Viemos pedir a mão de tua filha, Olwen, em casamento para Culhwch, filho de Celyddon.” E Yspaddaden, respondeu: – “Deixe-me ver que espécie de homem deseja ser meu genro.”

Quando Yspaddaden viu Culhwch, mandou o grupo embora prometendo uma resposta no dia seguinte, mas quando eles se retiraram, o velho rei lançou um dardo envenenado às suas costas. Bedwyr ouviu o sibilar do dardo e apanhando-o no ar, devolveu-o a Yspaddaden, atingindo-lhe no joelho. Aos berros ele diz: – “É assim que meu genro me trata?”, e continuou: “Vou coxear eternamente por causa da sua rudeza, maldita seja a bigorna do ferreiro que forjou esse dardo!”

Culhwch e os guerreiros retornaram à cabana do gigante e no dia seguinte foram até Yspaddaden, para saber a sua decisão. – “Deverás pedir a permissão aos quatro bisavôs de Olwen.”, disse o rei. E quando se viraram para sair, Yspaddaden, lançou outro dardo de ferro em suas costas, mas desta vez foi Menw quem devolveu o dardo ao dono, atingindo-o no peito. – “Uma praga eu rogo a esse genro sem coração!”, e disse: – “Agora não poderei mais subir a colina por causa da dor no peito, maldita seja a bigorna do ferreiro que forjou esse dardo!”

No dia seguinte, mais uma vez, os guerreiros compareceram diante do rei, que novamente, lançou outro dardo a suas costas, ao que desta vez, Culhwch apanhou no ar e lançou no olho de Yspaddaden. – “Nunca mais enxergarei como antes, por causa da insolência do meu genro.” E disse: – “Maldita seja a bigorna do ferreiro que forjou esse dardo!”

Depois disso, todos se sentaram à mesa para comer e Yspaddaden voltou-se a Culhwch, dizendo: – “Como você realmente pretende se casar com minha filha, primeiro deverá me prometer que nunca irá lhe ofender injustamente. Em segundo lugar, deverá me trazer o que lhe pedir e só depois disso a minha filha será sua.”

-“Então, faça o seu pedido, meu rei”, respondeu Culhwch.

-“Há anos minha barba e o meu cabelo não são cortados, porém, o único pente e navalha que farão esse serviço se encontram entre as orelhas do grande javali Twrch Trwyth. Será impossível caçá-lo sem a ajuda de Mabon, mas antes você deverá descobrir onde ele reside agora e somente Eidoel, seu primo, poderá encontrá-lo.”

Culhwch e os guerreiros partiram em busca de Eidoel, seguindo o conselho de uma ave encantada, o melro de Cilgwri, que com a ajuda de Gwrhyr, perguntou-lhe: “Diga-nos onde encontraremos Mabon, que foi roubado de sua mãe, nas três primeiras noites de vida.”

– “Há muito tempo atrás havia uma bigorna, na qual dei muitas bicadas até reduzi-la ao tamanho de uma noz e durante todo esse tempo, nunca ouvi falar de Mabon. Mas, há uma raça de animais que nasceram muito antes de mim, vou levá-los até eles.”

E o melro de Cilgwri levou-os até o veado de Redynvre.

– “Viemos até aqui, grande ser sagrado, pois não há nenhum animal mais velho que você, portanto, diga-nos onde podemos encontrar Mabon, o Caçador?” Perguntou Gwrhyr.

– “Há muito tempo atrás havia uma grande planície neste lugar, mas nela nada crescia exceto um carvalho que eu vi se transformar numa árvore enorme e, com o passar dos anos, definhou até restar apenas um toco. Durante todo esse tempo, nunca ouvi falar de Mabon. Mas, vou levá-los a uma criatura que é mais velha que eu.”

Então, o veado de Redynvre levou-os à coruja de Cwn Cawlwyd.

– “Diria se soubesse”, disse a coruja a Gwrhyr. “Quando eu vim para essas paragens pela primeira vez, esse vale era todo arborizado, até que nasceu a raça dos homens e arrancou todas as árvores. Durante todo esse tempo nunca ouvi falar do homem que procuram. Mas, vou levá-los a um animal mais antigo do que eu, a águia de Gwern Abwy.”

– “Muitas eras se passaram desde que cheguei aqui”, comentou a águia com Gwrhyr. “Este rochedo era tão alto que durante a noite eu podia bicar as estrelas lá no céu, mas hoje ele tem apenas um palmo de altura. Durante todo esse tempo nunca ouvi falar de Mabon. Porém, há muitos anos, quando pairava por cima das águas de Llyn Llyw em busca de comida, avistei um salmão. Quando mergulhei para apanhá-lo, ele me arrastou ao fundo, mas conseguiu fugir. Depois disso ficamos amigos. Ele deve ser mais velho que eu, então, vou levá-los até o salmão de Llyn Llyw.”

Chegando ao local, a águia disse ao salmão: – “Vim aqui visitá-lo, velho amigo, pois esses homens são da corte do rei Arthur e estão à procura de Mabon.”

– “O que posso dizer é que testemunhei muitos fatos, rio acima,” respondeu o salmão. “Venha comigo para averiguar aquilo que eu vi.” Aos pulos percorreu as águas geladas, levando-os até um castelo junto ao rio, de onde altos gritos ecoavam de uma masmorra. – “Quem chora tão desoladamente, dentro dessa prisão de pedra?” Perguntou Gwrhyr.

Ao que se ouviu como resposta: – “Sou eu, Mabon, filho de Modron.” Imediatamente, os guerreiros voltaram à corte de Arthur, que reuniu todo seu exército para sitiar o tal castelo de nome Cloucester. Durante a batalha, Kay e Gwrhyr, entraram na masmorra do lado do rio e libertaram Mabon, que fugiu nas costas do salmão de Llyn Llyw.

Em seguida, Arthur convocou todos seus guerreiros da ilha da Bretanha para capturarem o javali Twrch Trwyth, que agora vivia na Irlanda. A caçada, então, começou e os cães foram soltos atrás do javali, que fugiu para o País de Gales, mas finalmente, na Cornualha, foi capturado por Mabon que, juntamente com Kay, apanhou a navalha e depois o pente de ouro. Twrch Trwyth – o javali – desapareceu mar adentro, para nunca mais ser visto.

Por fim, os guerreiros retornaram ao castelo de Yspaddaden e sua barba e cabelo foram cortados. Culhwch perguntou ao rei: – “Sua barba e seu cabelo estão bem feitos? ” – “Sim”, disse Yspaddaden, “Minha filha agora é sua! Mas você nunca a teria ganhado sem a ajuda de Arthur e eu nunca teria desistido dela por minha livre e espontânea vontade. Então, agora eu morro ao perdê-la!”

E foi assim que Culhwch casou-se com Olwen, a filha de Yspaddaden Penkawr.

Fonte Bibliográfica:
Introdução à Mitologia Céltica – David Bellingham.
Contos Nativos do Mabionogion por Charlotte Guest.

Leia também: Sugestão para celebrar o Equinócio de Outono

Rowena A. Senėwėen ®
Pesquisadora da Cultura Celta e do Druidismo.

Website:
www.templodeavalon.com
Brumas do Tempo:
www.brumasdotempo.blogspot.com
Três Reinos Celtas:
www.tresreinosceltas.blogspot.com


Direitos Autorais

A violação de direitos autorais é crime: Lei Federal n° 9.610, de 19.02.98. Todos os direitos reservados ao site Templo de Avalon e seus respectivos autores. Ao compartilhar um artigo, cite a fonte e o autor. Referências bibliográficas e endereços de sites consultados na pesquisa, clique aqui.

"Três velas que iluminam a escuridão: Verdade,
Natureza e Conhecimento." Tríade irlandesa.

Nó Celta

Cat